domingo, 21 de agosto de 2011



PORTAL DOS ORIXÁS
O LIVRO DOS INICIADOS
ITANHAÉM
2011
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SUMÁRIO
1. A HISTÓRIA DO PORTAL DOS ORIXÁS ................................................................................................. 4
2. SOBRE O PORTAL DOS ORIXÁS ........................................................................................................... 5
3. BREVE HISTÓRIA DA UMBANDA ......................................................................................................... 6
4. O HINO DA UMBANDA ....................................................................................................................... 8
5. O COMPROMISSO DO UMBANDISTA ................................................................................................. 9
6. O MÉDIUM ...................................................................................................................................... 10
7. A INCORPORAÇÃO ESPIRITUAL ......................................................................................................... 11
8. ANTES DE ENTRAR NO TEMPLO ....................................................................................................... 12
9. AO ENTRAR NO TEMPLO .................................................................................................................. 14
10. CONDUTA DURANTE A GIRA .......................................................................................................... 15
11. AS ORAÇÕES .................................................................................................................................. 16
12. AS DEMANDAS ............................................................................................................................... 24
13. SAUDAÇÃO AO BABALORIXÁ .......................................................................................................... 26
14. SAUDAÇÃO A EXÚ........................................................................................................................... 27
15. A ABERTURA DOS TRABALHOS ....................................................................................................... 28
16. DEFUMAÇÃO ................................................................................................................................. 29
17. AS FERRAMENTAS SAGRADAS ........................................................................................................ 31
18. BATER CABEÇA ............................................................................................................................... 33
19. O SINCRETISMO .............................................................................................................................. 34
20. OXALÁ ........................................................................................................................................... 35
21. OXOSSI (OXOSSE) ........................................................................................................................... 37
22. MOÇAMBIQUEIROS ........................................................................................................................ 43
23. XANGÔ .......................................................................................................................................... 44
24. NANÃ BURUQUÊ ............................................................................................................................ 49
25. OGUM ........................................................................................................................................... 51
26. OBALUAÊ, OMOLÚ ......................................................................................................................... 56
27. OXUM ............................................................................................................................................ 59
28. IEMANJÁ ........................................................................................................................................ 62
29. IANSÃ ............................................................................................................................................ 65
30. PRETOS VELHOS ............................................................................................................................. 68
31. ERÊ, IBEJI ....................................................................................................................................... 74
32. CIGANOS........................................................................................................................................ 77
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33. BAIANOS ........................................................................................................................................ 79
34. BOIADEIROS .................................................................................................................................. 88
35. MARINHEIROS ............................................................................................................................... 91
36. EXÚ, POMBAGIRA, EXÚ-MIRIM ...................................................................................................... 95
37. O ENCERRAMENTO DA GIRA ........................................................................................................ 108
38. SITUAÇÕES ESPECIAIS ................................................................................................................... 110
39. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 112
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1. A HISTÓRIA DO PORTAL DOS ORIXÁS
Em 1993, Raquel Lílian ainda não era mãe – nem de sangue e nem de santo – ainda não era umbandista, mas já tinha sensibilidade fora do comum sobre o mundo espiritual quando uma amiga lhe indicou um terreiro para frequentar. Por mais que ela não soubesse começava ali a se formar o Portal dos Orixás.
Os anos se passaram e Raquel foi agregando valor aos terreiros que passou. Aprendeu o valor da mão-de-ferro na condução do rebanho e a importância da firmeza da incorporação na Federação de Umbanda Caboclo Cobra-Coral e Iansã, conheceu a força da doçura e do carisma do chefe de terreiro na Casa de Caridade Pai Mané Baiano, casa onde uniu todos os conhecimentos adquiridos dentro e principalmente fora do terreiro e foi consagrada Mãe de Santo. Mãe Raquel chegou a chefiar a casa de Mané por um bom tempo, mas a essa altura já iniciava alguns médiuns na sala de sua casa. Eles não tinham salão, abriam gira em casa, na casa dos médiuns, nos lugares que lhes eram permitidos. Não havia congá, no início eram apenas uma cadeira e um copo d’água e uma vela. Só isso. Mas a fé e união de seus membros – uma jovem Mãe de Santo, seu irmão caçula, seu marido e dois amigos considerados desde sempre como da família – foram o suficiente para assentarem, em 2002, a pedra fundamental do Portal dos Orixás.
Durante anos a rotina de se reunir na casa de amigos se manteve, contudo o número de adeptos foi crescendo e as salas de estar das casa ficaram pequenas para tantos médiuns e visitantes que buscavam por um passe, um benzimento ou apenas uma palavra de carinho para lhes fortalecer frente às provas da vida. Foi então que em 2007 todos se uniram e compraram um pequeno terreno, que revenderam e compraram os materiais necessários para erguer o atual salão em que o Portal dos Orixás abre suas giras a cada vinte e um dias, sob o comando supremo de Oxalá e com as firmezas do Sr. Xangô Sete Cachoeiras, chefe da casa.
Ao entrar na casa, olhe sua volta. Tudo o que você ver tem uma história que se remete às primeiras linhas deste texto e à união de todos que estão e que já passaram por este templo. Você hoje faz parte dessas história, então respeite-a.
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2. SOBRE O PORTAL DOS ORIXÁS
Fundação: 2001
Coordenação: Raquel Lílian, Cláudio Corrêa e Anderson Machado
Endereço: Rua 22, nº145, Chácara Bopiranga, Itanhaém – SP
Funcionamento: a gira se inicia as 20:30 a cada 21 dias (consulte calendário)
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3. BREVE HISTÓRIA DA UMBANDA
Em 15 de novembro de 1908, compareceu a uma sessão da Federação Espírita, em Niterói, então dirigida por José de Souza, um jovem de 17 anos de tradicional família fluminense. Chamava-se Zélio Fernandino De Moraes. Restabelecera-se, no dia anterior, de moléstia cuja origem os médicos haviam tentado, em vão, identificar. Sua recuperação inesperada por um espírito causara enorme surpresa. Nem os doutores que o assistiam nem os tios, sacerdotes católicos, haviam encontrado explicação plausível. A família atendeu, então, à sugestão de um amigo, que se ofereceu para acompanhar o jovem Zélio à Federação.
Zélio foi convidado a participar da Mesa. Sentiu-se deslocado, constrangido, em meio àqueles senhores. E causou logo um pequeno tumulto. Sem saber por que, em dado momento, ele disse: "Falta uma flor nesta casa: vou buscá-la". E, apesar da advertência de que não poderia afastar-se, levantou-se, foi ao jardim e voltou com uma flor que colocou no centro da mesa. Serenado o ambiente e iniciados os trabalhos, manifestaram-se espíritos que se diziam de índios e escravos. O dirigente advertiu-os para que se retirassem. Nesse momento, Zélio sentiu-se dominado por uma força estranha e ouviu sua própria voz indagar por que não eram aceitas as mensagens dos negros e dos índios e se eram eles considerados atrasados apenas pela cor e pela classe social que declinavam. Essa observação suscitou quase um tumulto. Seguiu-se um diálogo acalorado, no qual os dirigentes dos trabalhos procuravam doutrinar o espírito desconhecido que se manifestava e mantinha argumentação segura. Afinal um dos videntes pediu que a entidade se identificasse, já que lhe aparecia envolta numa aura de luz.
Se querem um nome - respondeu Zélio inteiramente mediunizado - que seja este: eu sou o Caboclo Das Sete Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados.
E, prosseguindo, anunciou a missão que trazia: estabelecer as bases de um culto, no qual os espíritos de índios e escravos viriam cumprir as determinações do Astral. No dia seguinte, declarou ele, estaria na residência do médium, para fundar
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um templo, que simbolizasse a verdadeira igualdade que deve existir entre encarnados e desencarnados.
Levarei daqui uma semente e vou plantá-la no bairro de Neves, onde ela se transformará em árvore frondosa.
No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na residência da família do jovem médium, na Rua Floriano Peixoto, 30 em Neves, bairro de Niterói, a entidade manifestou-se pontualmente no horário previsto - 20 horas.
Ali se encontravam quase todos os dirigentes da Federação Espírita, amigos da família, surpresos e incrédulos, e grande número de desconhecidos que ninguém poderia dizer como haviam tomado conhecimento do ocorrido. Alguns aleijados aproximaram-se da entidade, receberam passes e, ao final da reunião, estavam curados. Foi essa uma das primeira provas da presença de uma força superior.
Nessa reunião, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabeleceu as normas do culto, cuja prática seria denominada "sessão" e se realizaria à noite, das 20 às 22 horas, para atendimento público, totalmente gratuito, passes e recuperação de obsedados. O uniforme a ser usado pelos médiuns seria todo branco, de tecido simples. Não se permitiria retribuições financeiras pelo atendimento ou pelos trabalhos realizados. Os cânticos não seriam acompanhados de atabaques nem de palmas ritmadas.
A esse novo culto, que se alicerçava nessa noite, a entidade deu o nome de Umbanda, e declarou fundado o primeiro templo para sua prática, com a denominação de tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, porque: "assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflição".
Através de Zélio manifestou-se, nessa mesma noite, um Preto Velho, Pai Antônio, para completar as curas de enfermos iniciadas pelo Caboclo. E foi ele quem ditou este ponto, hoje cantado no Brasil inteiro: "Chegou, chegou, chegou com Deus, Chegou, chegou, o Caboclo das sete Encruzilhadas".
A partir desta data, a casa da família de Zélio tornou-se a meta de enfermos, crentes, descrentes e curiosos.
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4. O HINO DA UMBANDA
Refletiu a luz divina com todo seu esplendor é do reino de Oxalá Onde há paz e amor Luz que refletiu na terra Luz que refletiu no mar Luz que veio, de Aruanda Para todos iluminar A Umbanda é paz e amor É um mundo cheio de luz É a força que nos dá vida e a grandeza nos conduz. Avante filhos de fé, Como a nossa lei não há, Levando ao mundo inteiro A Bandeira de Oxalá ! Levando ao mundo inteiro A Bandeira de Oxalá !
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5. O COMPROMISSO DO UMBANDISTA
Ao assumir a umbanda como sua doutrina religiosa, o umbandista assume um grande compromisso com as forças que regem o universo rumo à perfeição: o compromisso de se doar ao próximo, aos necessitados.
Doar-se a quem precisa significa ser caridoso, executar a caridade tal qual Jesus disse “Fora da caridade não há salvação”. O umbandista deve ter certeza do passo que dá ao assumir este compromisso, pois grande é a responsabilidade no que tange a vida do próximo, seus problemas e necessidades. Como umbandista deve-se estar ciente de sua função de educador e pregador das palavras de bondade, porque muitas vezes os necessitados por justificada ignorância, afinal não são iniciados e não conhecem as conseqüências de seus atos, podem confundir o Templo de Umbanda com uma fonte dos desejos ou algo parecido. Cabe então ao umbandista fazer valer seu conhecimento e seu compromisso e educá-lo. Sempre.
Toda vez que há falha no cumprimento do compromisso, aumenta o risco do não entendimento do que a umbanda realmente é, nesse momento a umbanda se afasta um pouco de seus objetivos.
Os Orixás, assim como os umbandistas encarnados, também compartilham desse mesmo compromisso com a caridade. Todos fazem parte de uma mesma corrente, contudo os Orixás contribuem ainda mais com a sua sabedoria ancestral e seus dons curativos. Cabe ao umbandista aprender a cada instante com tudo e todos os envolvidos no círculo umbandista.
O segredo é se doar, é ter foco no próximo e obedecer as leis da evolução através da caridade. Tentem sempre se colocar no lugar dos irmãos necessitados e sentir sua dor. Isso é o princípio de tudo.
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6. O MÉDIUM
A palavra médium provém do latim, que significa meio, ou seja, o médium é em essencialmente um meio entre o plano espiritual e o plano terreno. Meio pelo qual os espíritos se comunicam e agem nas vidas dos encarnados.
Todos são médiuns, independentemente de sua idade ou religião todos possuem a faculdade de servir de meio entre os planos da carne e do espírito, bastam fé, doutrina e concentração. Contudo é errado imaginar que a mediunidade resume-se apenas na incorporação espiritual, ela se manifesta de incontáveis maneiras e diferentes graus de intensidade. Maneiras que variam entre a visão, audição, sensibilidade, premonições, incorporação etc. Tudo para facilitar a comunicação do plano astral e o plano físico. Quanto à intensidade, um médium pode nascer com um grau elevado de mediunidade ou, mais comum, ir apresentando sinais sutis dela durante a vida.
Para ambos os casos a boa compreensão do que é a mediunidade se faz mais do que necessária, a combinação de fé, doutrina e concentração torna-se essencial para o desenvolvimento do médium.
Fé significa acreditar naquilo que não se pode ver, ou seja, o primeiro passo para lidar com o dom de servir de meio entre o invisível e o visível é acreditar que ele existe e é poderoso. Fé não tem nada a ver com religião, a religiosidade pertence ao campo da doutrina.
Doutrina é a organização de pensamentos e atitudes em forma de regras com um fim determinado. Uma religião é uma doutrina, a Umbanda é uma religião doutrinada por preceitos de caridade, fé, humildade e amor. Ao aceitar a doutrina umbandista,o iniciado aceita seus preceitos e começa a desenvolver sua mediunidade segundo as regras e pensamentos umbandistas. O desenvolvimento mediúnico se dará por técnicas que o levam a reforçar seu poder de concentração afim de reduzir os ruídos entre a comunicação de sua mente com os planos superiores, elevando o grau de sua mediunidade, minimizando os riscos de interferências de planos menos evoluídos da espiritualidade.
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7. A INCORPORAÇÃO ESPIRITUAL
É uma das formas mais emblemáticas de manifestação mediúnica, por mexer com o maior número de sentidos dos expectadores, como a visão, tato, olfato e proporcionar o diálogo em tempo real entre os planos. Ocorre quando um espírito se apossa do controle do corpo de um médium, manifestando-se através da fala, de gestos, emanando energias etc.
Ainda há uma grande nuvem pairando sobre este tipo de manifestação, principalmente no que tange a presença ou não do espírito do médium em seu corpo e também sobre a consciência, semi-consciência e inconsciência durante a incorporação.
Pai Ronaldo Linhares na “Apostila do 25º Barco do Babalawô” lançou luz e simplicidade sobre o tema ao comparar a incorporação ao ato de dirigir. Pediu que o iniciado comparasse seu corpo a um carro o qual ele era o dono e único motorista, até que em um dado momento um outro motorista – outro espírito – pede para dirigir o veículo, contanto que o iniciado dono do carro ficasse no banco do carona – respondeu então a primeira pergunta, afirmando que o corpo do médium compartilham o mesmo corpo durante a incorporação.
Como não está acostumado com o novo “motorista” de seu corpo, fica atento a tudo o que acontece, cada movimento, onde vai, com quem fala e o que fala – estado de consciência. Com o passar do tempo, já mais acostumado com o motorista, sabendo de sua habilidade em dirigir seu veículo, médium passa a relaxar mais no banco do carona e deixa de reparar nos detalhes da viagem, focando mais na paisagem e perdendo a noção do tempo que está “no banco do carona” e quando vê, já está de volta ao comando do carro – semi-consciência.
Com o passar do tempo e já plenamente acostumado a ceder o comando de seu carro à outros motoristas, o médium simplesmente relaxa ao ponto de dormir no banco e não vê nada do passeio, acordando somente no final da viagem – o médium inconsciente.
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Este exemplo trata de um caso padrão em que a consciência vai desaparecendo com o tempo, contudo há casos de médiuns que mantém a consciência durante toda a vida ou ainda os que variam o grau de consciência conforme a situação em que está a gira ou a si próprio. Por isso é imprescindível a combinação de fatores como a fé, a doutrina e concentração, bem como a preparação do médium antes da gira e a postura durante e depois dos trabalhos espirituais.
8. ANTES DE ENTRAR NO TEMPLO
Conflito de caráter
É impossível dissociar a conduta da pessoa dentro e fora do terreiro, ou seja, a pessoa é umbandista onde quer que ela for, por mais que ela não conte a ninguém, mas sua conduta deve ser exemplar não importa onde ela for. O risco do descumprimento dessa máxima é o ruído entre a imagem da pessoa dentro e fora do templo. Quem o conhecer nesses meios ficará em dúvida sobre o caráter do umbandista e se perguntará qual é o verdadeiro: a pessoa que conhece fora do templo ou dentro?
A preparação para o dia de trabalho espiritual
Estamos sempre cercados de espíritos, bons e ruins, e não seria diferente nos dias de trabalho no templo. Contudo esses dias são especiais para o umbandista, devendo ele se preparar desde a noite anterior à gira até o momento dos trabalhos.
Antes de dormir é bom acender uma vela branca para Oxalá e pedir a ele que interceda junto aos demais Orixás para a segurança de seu espírito afim de lhe garantir firmeza para encarar as batalhas espirituais que podem vir a acontecer no templo.
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Ao despertar, o faça de forma calma e agradeça a Deus por estar de pé novamente, peça a Ele forças para mais um dia de preparação da carne e da mente. Durante o decorrer do dia não coma carne, pois os animais pressentem o momento da morte (em geral dolorosa) e essa energia negativa é absorvida por que a ingere e pode prejudicar a incorporação e as defesas espirituais do médium.
Evite também o uso de bebidas alcoólicas, drogas e outros psicotrópicos que reduzem a capacidade de concentração, aumentando o risco de ruídos na relação do médium com os Orixás, podendo gerar grandes problemas no curso da gira.
Não faça sexo no dia de sessão espiritual, por essa ser uma atividade de cunho exclusivamente carnal, ela desconfigura toda a preparação necessária para o médium realizar com plenitude sua missão no terreiro.
Faça uso dos banhos de defesa receitados pela casa, pois estes foram indicados pelos Orixás que regem o templo e tem como objetivo manter a firmeza e preparo cultivados durante todo o dia até a hora da gira. No portal dos Orixás os banhos receitados são de boldo (que pode ser aplicado da cabeça aos pés) e o de folhas de mangueira (banhar apenas do pescoço para baixo).
O banho deve ser preparado da seguinte forma: aquecer uma panela com água até que a fervura se inicie, apagar o fogo e inserir as folhas selecionadas. Manter a panela tampada com as folhas em infusão até que cheguem a uma temperatura possível de banhar.
E durante todo o dia evite estresse, brigas e palavrões. Essas atitudes só fazem afastar sua consciência da paz necessária para os trabalhos espirituais. Mantenha-se em paz, livre das tentações e com foco no compromisso assumido com a Umbanda.
Programe seu dia, aproveite todo o seu tempo para evitar atrasos. Procure chegar com antecedência mínima de 40 minutos, para ter tempo de cumprir com calma o protocolo estabelecido e os rituais de início da gira.
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9. AO ENTRAR NO TEMPLO
O templo é um local sagrado escolhido pelos orixás para abrigar seus trabalhos espirituais. É mais do que apenas um salão com um altar e uma cerca, os trabalhos são realizados num plano que escapa aos nossos sentidos. O que vemos acontecer na maioria das vezes são apenas os médiuns gesticulando conforme a vontade dos espíritos, porém sua energia e as graças realizadas escapam à nossa visão. Cada canto, cada passagem e cada objeto do terreiro é consagrado pelos Orixás e merecem o respeito dos filhos da casa, por isso há um ritual de reverências a ser cumprido sempre que o umbandista entrar no templo.
Em silêncio, o filho deve:
1. Pedir licença aos guardiões da casa ao passar pela porta de entrada;
2. Assinar a ata dos trabalhos;
3. Saudar o conga central, de onde vem as energias de paz que regem os trabalhos;
4. Saudar os atabaques, instrumentos consagrados que evocam os Orixás;
5. Pedir a bênção aos dirigentes do terreiro, que zelam espiritualmente por todos no templo;
6. Sair pela porta principal e ir saudar a tronqueira, ponto de firmeza de Exú;
7. Vestir as roupas de ritual e aguardar o início da gira.
Não basta apenas cumprir o protocolo, cada ato deve ser feito de coração, porque os Orixás não nos enxergam apenas como carne, eles vêem nossos sentimentos e intenções.
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10. CONDUTA DURANTE A GIRA
O mesmo respeito que o médium mostra à gira durante as preparações e na estrada do templo, deve ser mantido no discorrer dos trabalhos, afinal seria hipocrisia tanta preparação e tantas reverências para no principal momento abandonar os preceitos até então seguidos com fervor.
Vale lembrar que há a regra do silêncio na gira, que só deve ser quebrada em momentos de discussão aberta sobre temas diversos ou, o mais importante, para entoar cânticos para os Orixás. Neste momento toda a vibração é necessária e bem vinda, em forma de canto e de palmas, que elevam a energia do ambiente e pavimentam o caminho para a caridade. Fora destas situações, manter-se educadamente em silêncio e ficar atento às orientações dos dirigentes é o mais usual e esperado da conduta dos fiéis.
Pausas para descanso serão executadas estrategicamente durante a gira, nas quais o médium deverá estar atento às suas prioridades, sejam elas trocas de roupas, fumar, usar o banheiro ou simplesmente descansar, pois as pausas são sempre curtas e o mau uso do tempo atrapalha a organização dos trabalhos.
Evite conversas paralelas à execução dos trabalho, em caso de alguma dúvida basta consultar o responsável pela gira. Caso sinta a necessidade de fumar, beber água ou usar o banheiro antes do intervalo, peça licença ao responsável e vá rápida e discretamente. Caso haja alguém do lado de fora, aguarde o retorno da pessoa para que possa prosseguir.
Mantenha-se a maior parte do tempo contribuído com a gira em forma de canto, dança e palmas. Não sente nos bancos a não ser que a gira esteja paralisada.
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11. AS ORAÇÕES
A oração é uma forma de padronizar o clamor aos céus, de forma que os desejos da corrente subam com mais força aos espíritos que nos guiam. Quando os momentos de orar forem anunciados, o médium deve empregar o máximo fervor em respeito à seriedade do momento.
Pai Nosso
Pai nosso, que estais no céu. Santificado seja o Vosso nome,
Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade,
Assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal,
Amém.
Ave Maria
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte.
Amém.
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Prece de abertura dos trabalhos
Pai Misericordioso e Justo, Criador do Universo, lançai as vossas bênçãos sobre os vossos filhos em Vosso Sagrado Nome, vão executar neste terreiro, em benefício dos seus irmãos, também Vossos filhos. Pai Misericordioso e Justo, daí permissão aos Espíritos de Luz, aos Irmãos superiores, aos Anjos, aos Santos, aos Orixás e Chefes de Falange e seus comandados, aos Caboclos e Pretos Velhos, espíritos do mar, dos rios, das fontes e das cachoeiras, a todos os espíritos puros e purificados, que lancem sobre este terreiro as suas irradiações salutares, seus fluidos regeneradores, tudo em benefício dos que aqui vem em busca de alívio, socorro e cura para seus sofrimentos físicos e espirituais. Oxalá, poderoso e chefe de bondade, lançai sobre nós os vossos influídos, infundindo em todos nós a resignação, a boa vontade e a fé para desempenharmos as nossas tarefas. Anjos da guarda, Guias e Protetores, derramai a Vossa influência sobre os médiuns aqui presentes, para que possuídos da vossa energia, possam eles transmiti-la aos irmãos necessitados de amparo. Espíritos de luz, daí aos médiuns a vossa força para que eles a possam transmitir aos irmãos que tanto necessitam recebê-la. Que as forças do Universo, sob a ação dos Irmãos, dos Guias, dos Protetores e dos Anjos da Guarda, venham a se derramar luminosas, benéficas e fortes neste ambiente, iluminando-nos e purificando-nos com o afastamento dos maus elementos perturbadores do Espaço e da Terra. Que assim seja
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Prece de Cáritas
Deus, nosso Pai, que sois todo poder e bondade, dai forca àquele que passa pela provação; dai luz àquele que procura a verdade, pondo no coração do homem a compaixão e a caridade. Deus, dai ao viajor a estrela guia; ao aflito a consolação; ao doente o repouso. Pai, dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, a criança o guia, ao órfão o pai. Senhor, que a vossa bondade se estenda sobre tudo que Criastes. Piedade Senhor, para aqueles que não vos conhecem, esperança para aqueles que sofrem. Que a Vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé. Deus, um raio, uma faísca do Vosso amor pode abrasar a terra. Deixa-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão. Um só coração, um só pensamento subirá até Vós como um grito de reconhecimento e amor. Como Moisés sobre a montanha, nos Vós esperamos com os braços abertos, oh! Poder... oh! Bondade... oh! Beleza... oh! Perfeição, e queremos de alguma sorte alcançar a Vossa misericórdia. Deus, dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós. Dai-nos a caridade pura; dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas, o espelho onde deve refletir a Vossa Santa e Misericordiosa imagem.
Salve Rainha
Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,
Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria
Rogai por nós santa Mãe de Deus para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.
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Credo
Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho nosso Senhor.
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos Céus está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir julgar os vivos e mortos.
Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos, na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne, na vida eterna.
Amém.
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Oração às Almas Benditas
Almas santas e benditas,
aqueles que são do meu Senhor Jesus Cristo,
Por três:
por aquelas três almas que morreram enforcadas,
por aquelas três almas que morreram degoladas
e por aquelas três almas que morreram a ferro frio,
juntem todas três, todas seis e todas nove,
para darem três abalos e três pancadas
nos corações dos meus inimigos que ficarão humildes a mim,
debaixo de uma paz e consolação a ponto de terem olhos e não me verem,
terem pernas e não me alcançarem
e de terem braços e não me agarrarem,para sempre sem fim.
Amém
Oração da Fortuna
Mar sagrado que te venho salvar. Água que te venho pedir
Para que me ouro para guardar, Prata para gastar e cobre para dar aos pobres
Que assim seja.
Prece A Oxalá
Nosso Pai Bondoso e Misericordioso. Meu Pai das Colinas, olhai por nós. Assim como criastes todos os Orixás, Deus eterno e criador do Universo Celeste. Dai-nos a vossa bênção. Ó Divino Mestre, deixai-nos apoiar em vosso cajado de esperança para que vosso Manto Sagrado possa proteger-nos com vossas bênçãos e benevolências. Oxalá iê, Zambiê!
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Prece À Iemanjá Poderosa força das águas. Inaê, Janaína, Sereia do Mar. Saravá minha Mãe Iemanjá! Leva para as profundezas do teu mar sagrado. Odoiá… Todas as minhas desventuras e infortúnios. Traz do teu mar todas as forças espirituais para alento de nossas necessidades. Paz, esperança, Odofiabá… Saravá, minha Mãe Iemanjá! Odofiabá…
Prece A Xangô Senhor de Oyó. Pai justiceiro e dos incautos. Protetor da fé e da harmonia. Kaô Cabecile do Trovão. Kaô Cabecile da Justiça. Kaô Cabecile, meu Pai Xangô. Morador no alto da pedreira. Dono de nossos destinos. Livrai-nos de todos os males. De todos os inimigos visíveis e invisíveis. Hoje e sempre, Kaô meu Pai.
Prece À Iansã Oiá… Oiá… nossos passos. Iansã, Deusa máxima do Cacurucaia… Bamburucena, Rainha, Mãe e Protetora. Eparrei nossa mãe Divina. Deusa divina dos ventos e das tempestades. Deixa-nos sentir também a tua bonança. Iansã dos relâmpagos, dá-nos uma faísca da tua graça divina. Eparrei, Eparrei… Oiá!
Prece A Ogum Orixá, protetor, Deus das lutas por um ideal. Abençoai-me, dai-me forças, fé e esperança. Senhor Ogum, Deus das guerras e das demandas, livrai-me dos empecilhos e dos meus inimigos. Abençoai-me neste instante e sempre para que as forças do mal não me atinjam. Ogum Iê, Cavaleiro Andante dos caminhos que percorremos. Patacori… Ogum Iê… Ogum meu Pai, vencedor de demandas… Ogum Saravá Ogum… E que assim seja!
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Prece A Oxossi Okê… Okê Cavaleiro de Aruanda! Okê… Rei dos Caboclos e das Matas! Senhor Oxossi, que as suas matas possas estar repletas de Paz, Harmonia e Bem-Aventurança. Meu Pai Oxossi, Rei dos Caçadores, não permita que eu me torne uma presa dos malefícios nem dos meus inimigos. Okê, Okê, meu Pai Oxossi! Rei das Matas de Aruanda. Okê Arô!
Prece À Oxum Canto sereno que assobia, nos regatos lagos e cachoeiras. Senhora faceira de beleza e ternura. Protetora das crianças e de todos os que necessitam de tua graça. Mamãe Oxum, Deusa formosa dos rios. A Mãe das Águas Doces, acolhe-nos em teu seio, proporciona-nos paz e alegria. Saravá Mamãe Oxum! Ora Iê Ie!
Prece A Obaluaiê-Omulu Dominador das epidemias. De todas as doenças e da peste. Omulu, Senhor da Terra. Obaluaiê, meu Pai Eterno. Dai-nos saúde para a nossa mente, dai-nos saúde para nosso corpo. Refoçai e revigorai nossos espíritos para que possamos enfrentar todos os males e infortúnios da matéria. Atotô meu Obaluaiê! Atotô meu Velho Pai! Atotô Rei da Terra! Atotô Babá!
Prece À Nanã Buruquê Mãe protetora de todos nós. Senhora das águas opulentas. Deusa das chuvas benévolas. Deixa cair sobre nós a chuva divina da tua bondade fecunda e infinita. Salubá Nanã Buruquê! Purifica com tuas forças nossa atmosfera para que possamos ser envolvidos pelos teus olhos maravilhosos. Salubá Nanã Buruquê! Salubá!
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Prece Aos Preto Velhos Meus benditos Pretos e Pretas Velha. Meus Santos, guias e espíritos protetores. Mestres divinos da Linha das Almas.. Abençoai esta casa e os meus passos. Aplacai as forças dos nossos inimigos. Meus queridos Pretos Velhos, que a sua candura e bondade recaia sobre nó como o véu do divino amor. Meus Pretos Velhos, dai-nos a fé, a esperança e a felicidade. Eu adorei as Almas! Saravá, meus Pretos Velhos!
Prece aos Caboclos Do sabiá, ao primeiro trinado, ergue-se o homem, ainda cansado, Do sono dormido e que não descansou. Caminha até a porta, com muito vagar, E olhando o infinito, se põe a rezar a oração do caboclo (dizer o nome do caboclo) Que a terra ensinou. Do sol que renasce, o primeiro clarão, Clareia o caboclo, que de pé no chão vai outra batalha, sozinho enfrentar. E assim o caboclo, na luta sem fim, caminha ao perfume da flor de jasmim, Rezando a oração que a terra ensinou.
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12. AS DEMANDAS
Dá-se o nome de demanda toda e qualquer força que possa impedir o perfeito andamento dos trabalhos. É recomendado aos iniciados alertar os dirigentes sobre qualquer sensação estranha durante a gira para que o responsável pelo terreiro tome as devidas atitudes e restabelecer o clima de harmonia
Atenção: Pelo fato dos pontos e orações de demanda serem muito contundentes é preciso cuidado no momento de entoá-los no templo, principalmente em dias que houver visitas na casa sob o risco de elas se sentirem ofendidas.
Pontos de demanda
Tu não jogue pemba preta cá dentro do meu terreiro
O meu coco tem dendê pro inimigo traiçoeiro.
Oh meu são Jorge, meu Sagrado Coração
Criança engatinhando a derrubar velho no chão
Gira tão boa como na Umbanda não há
Quem não pode com mandinga não carrega patuá.
Ogum de Ronda, rondei, rondei
Ogum de Ronda, rondei rondá
Ogum de Ronda, abre os méis caminhos
Ogum de Ronda para eu passar
Bandeira branca é de Ogum
Tá hasteada lá no Humaitá
Ogum de Ronda me fecha as porteiras
Pros inimigos não atravessar.
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Quem vence demanda é Ogum Megê
Quem rola as pedras é Xangô, caô.
Flecha de Oxossi é certeira, é.
É é é é.
Oxalá é meu Senhor, ô ô ô ô.
Sete linhas de Umbanda, sete linhas para vencer.
Se Oxalá é meu senhor, ninguém pode perecer.
Mãe Oxum nas cachoeiras, Iemanjá nas ondas do mar.
Se Iansã vem proteger, pai Ogum vai demandar.
Nessa casa tem quatro cantos,
em cada canto tem seu santo.
Olha viva Jesus e Maria
e o Divino Espírito Santo.
Zum zum zum olha lá meu Deus quem é?
Eu juro por Deus e as Almas
O inimigo cai e eu fico em pé.
Lua bonita que clareia o mundo inteiro
Vi são Jorge no espaço iluminar esse terreiro
Lá vem chegando os guerreiros de São Jorge
Todos de espadas na mão, a iluminar esse mundão
Nesse terreiro eles quebram macumbeiro
Eles quebram feiticeiro de baixo de um alazão
Quem foi que disse que esta casa cai?
Cai, cai, cai, mas esta casa não cai
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13. SAUDAÇÃO AO BABALORIXÁ
Babalorixá ou Babalaô, quer dizer Pai no santo em língua Iorubá, ao passo que Ialorixá significa Mãe no Santo na mesma língua. Contudo na Umbanda usa-se somente a expressão Babalorixá ou Babalaô para se referir ao homem ou mulher que alcançou o este grau que consideramos um acima do grau de Pai ou Mãe de Santo, porém os pontos de saudação ao Babalaô podem ser entoados para saudar os pais da casa, bem como chefes de terreiro que estiverem em visita oficial e achem necessário a honraria da saudação.
Pontos de louvor ao Babalorixá
Na mata virgem o sabiá cantou
Oxalá mandou saravar Babalaô
Babalaô, Babalaô
Com sua licença Oxalá foi quem mandou
Xauê babá, Babá de Orixá
Xauê Babalaô, Babalaô de Orixá
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14. SAUDAÇÃO A EXÚ
Orixá guardião das porteiras do templo merece ser saudado no início dos trabalhos.
Pontos de saudação aos defensores da cancela
Ô na porteira eu deixei meu sentinela
Eu deixei Sr. Sete Encruzas tomando conta da cancela (trocar o nome do Exú)
Tem morador, de certo tem morador
Na porta onde o galo canta de certo tem morador.
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15. A ABERTURA DOS TRABALHOS
Pode-se dizer que é a abertura oficial da gira, pois antes disso os membros da corrente já vem fazendo uma série de preparativos que vem desde os banhos em suas respectivas casas, passando pelas orações, cânticos preparatórios, prévias defumações no templo etc.
É nesse momento que o sacerdote, ou médium indicado por ele, declara aberta a gira.
Pontos de abertura dos trabalhos
Vou abrir minha jurema, vou abrir meu Juremá.
Com a licença de Mamãe Oxum e nosso Pai Oxalá
Já abri minha jurema, já abri meu jurema,
Com a licença de Mamãe Oxum e nosso Pai Oxalá
Eu abro a nossa gira com Deus e Nossa Senhora
Eu abro a nossa gira, sandolê pemba de Angola.
Nossa gira está aberta com Deus e Nossa Senhora
Nossa gira está aberta sandolê pemba de Angola.
Me abre essa gira Ogum
Não deixe a demanda entrar
É hora, é hora, é hora meu Pai.
É hora de trabalhar.
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16. DEFUMAÇÃO
Um dos pontos fortes da preparação da gira onde se fundem os elementos do fogo, terra, água e ar aliados às folhas e ervas sagradas para envolver as coroas dos iniciados com a finalidade de nivelar a vibração da corrente e defender a gira e seus médiuns.
O elemento fogo é ativado na fogueira que vem do braseiro, a terra presente nos pequenos flocos de argila na mistura de defumação e nas cinzas resultantes da fogueira, a água está presente na umidade da mistura e sem a qual ao haveria fumaça, só fogo. E o ar que leva as ervas sagradas em forma de fumaça para dentro e envolta dos médiuns.
Pontos de defumação
Corre gira Pai Ogum, filhos quer se defumar.
Umbanda tem fundamento, é preciso preparar.
Com incenso e bejoim, alecrim e alfazema,
Defumar filhos de fé com as ervas da Jurema.
Vamos defumar a Umbanda com sete anjos do céu.
A Umbanda cheira a rosa e a rosa cheira a guiné.
Vamos cruzar nosso terreiro,
Vamos cruzar nosso conga.
Vamos cruzar a nossa gira
Na fé pai Oxalá.
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Nossa Senhora incensou a Jesus Cristo
Jesus Cristo incensou os filhos seus
Eu incenso, eu incenso essa casa
Na fé de Oxossi, de Ogum e Oxalá
Defuma com as ervas da Jurema
Defuma com arruda e guiné.
Alecrim, bejoim e alfazema,
Vamos defumar filhos de fé!
Defumador que cheira a guiné,
Vamos defumar filhos de fé
A mata queimou, cheirou a guiné
Vamos defumar filhos de fé.
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17. AS FERRAMENTAS SAGRADAS
Todo culto religioso possui objetos importantes ou sagrados e a Umbanda não se difere das demais. Há no templo uma série de objetos consagrados e de suma importância para a realização da gira. São eles o atabaque, a pemba, a toalha ou pano de cabeça, o adjá as guias, as velas e o turíbulo.
O atabaque, como já explorado nesta obra é um instrumento milenar que serve de condutor de energias, que através de seu som é capaz de elevar ou cadenciar o ritmo dos trabalhos e seu operador, o ogâ, é iluminado pelos Orixás para que através de sua força conduzam o ritmo da gira.
A pemba pode muito bem ser confundida com um simples giz e a linha tênue, porém gigantesca, que separa a pemba do giz comum é o seu uso. A pemba é um giz consagrado para uso no templo. É com ela que os Orixás riscam seus pontos, ou seja, imprimem na terra seus nomes e magias com símbolos do astral.
A toalha de cabeça é o acessório responsável por embalar o fiel no ritual mais emblemático da abertura de uma gira: o bater cabeça. Esta toalha deve ser feita de pano virgem, sem uso antes deste e também não pode ter outro uso após a consagração no terreiro.
O adjá é uma espécie de sino usado para anunciar ou provocar o advento de uma entidade na terra. Somente os membros mais antigos e preparados da casa têm permissão para manusear o adjá, que pode ter de duas a doze bocas, conforme o culto.
Guias ou fios de conta são colares ritualísticos com cores que representam os Orixás cultuados. O ideal é que seu comprimento seja da nuca ao umbigo. Quanto à sua grossura, podem ser de miçanguinhas (para médiuns iniciantes), e ir avançando de tamanho para miçangas de tamanho normal, contas de porcelana e cristal conforme o desenvolvimento da mediunidade de cada iniciado. Os brajás também pertencem à classe das guias mas são compostos de três ou sete fios e são de uso exclusivo dos membros da padrinhagem – padrinhos, madrinhas, pais e mães de santo.
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As velas são largamente utilizadas na maioria dos cultos religiosos como forma de representar a chama divina que erguerá nossas preces aos céus. No culto umbandista são usadas velas com as cores representativas dos Orixás. No caso específico do Portal dos Orixás não são usadas as velas de cor preta e preta-e-vermelha por orientação do Sr. Exu Rei das Sete Encruzilhadas, que recomenda apenas o uso da cor vermelha nas giras de esquerda. Ao acender uma vela de ritual, seja no terreiro ou para oração em casa, o fiel deve atear fogo em seu cume e em seguida circundar a cabeça com a vela no sentido horário enquanto inicia a oração. Isso serve para iniciar a iluminação da coroa do iniciado.
O turíbulo é o recipiente usado para defumar o templo. Nele são colocados o carvão e as essências de defumação.
Pontos de saudação às ferramentas
Ô salve a pemba,
Também salve a toalha.
Salve a coroa
É de nosso Zambi, é maior
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18. BATER CABEÇA
O ritual mais sério e emblemático da abertura dos trabalhos é o bater cabeça. É nesse momento em que todos os fiéis iniciados da casa se deitam sobre a toalha branca consagrada para agradecer e pedir proteção aos sagrados Orixás. Após deitar e se levantar, o iniciado saúda os atabaques e a porteira, se curvando em reverência. Em seguida pedem a bênção aos seus zeladores de santo, curvando-se e depois abraçando-os. Após isso voltam aos seus lugares para engrossar o coro de cânticos deste ritual.
Pontos para bater cabeça
No reino dos Orixás, filhos vão se ajoelhar.
Saudando a nossa Babá, que vai bater cabeça aos pés de Oxalá.
A Lua lá no céu surgiu, eu bati a cabeça ao meu Pai Xangô.
Ô ô ô ô ô ô ô a lua era mais forte e clareou
A lua nasce por de trás da cachoeira
Anunciando Pai Xangô lá nas pedreiras
Bate cabeça filhos de fé
E peça a Pai Xangô o que quiser.
Cachoeira da mata virgem onde mora meu Pai Xangô
Pedra rolou Nanã Burukê, pedra rolou sarava Pai Xangô
Ê ê ê ê ê ah, se ele é filho de pemba bate cabeça lá no conga.
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19. O SINCRETISMO
Sincretismo, segundo o dicionário Aurélio, é um sistema filosófico ou religioso que tende a fundir numa só várias doutrinas diferentes. É natural em várias religiões este tipo de adaptação, pois facilita o entendimento dos leigos. O sincretismo dos Orixás teve início nos tempos da escravidão, quando os negros africanos eram proibidos de cultuar seus Orixás por eles serem considerados pagãos pelos senhores brancos. Então começaram a definir semelhanças entre os deuses do culto africano e os santos católicos, assim quando iniciavam seus rituais utilizavam as imagens de santos portugueses e, atrás dessas peças, escondiam as ferramentas dos seus Orixás.
Séculos depois a Umbanda ainda uma religião nova que também cultuava Orixás, manteve a tradição do sincretismo, por isso não é raro ouvir nos pontos cantados menções a santos do catolicismo. Na maioria dos terreiros o conga central possui imagens de santos católicos justamente para honrar esta tradição.
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20. OXALÁ
É o Orixá da pureza e do equilíbrio. Logo abaixo de Zambi – o equivalente a Deus, que é cultuado, mas não incorpora em ninguém – Oxalá é o Orixá de maior elevação no panteão umbandista. Os filhos de Oxalá são tão raros quanto sua presença incorporada no terreiro, as aparições deste Orixá só se dão em ocasiões de elevada pureza espiritual no templo e devem ser encaradas como um presente celestial aos filhos. Saudação: Ô Zambi iê (Oxalá iê) Cor da vela e das guias: branca (união de todas as cores-luz). Sincretismo: Jesus. Dia da semana: todos, especialmente sexta-feira. Principal erva: boldo (tapete de Oxalá). Oferenda: em um prato branco ou de barro, colocar canjica cozida apenas com água e enfeitar com pequenos flocos de algodão branco e flores brancas. Acender velas brancas em volta e colocar copos com água.
Pontos cantados de Oxalá
Oxalá meu pai
Tem pena de nós, tenha dó.
Se a volta do mundo é grande,
Seus poderes são maior.
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Quando Jesus bater nas portas do seu coração.
Deixe-o entrar, deixe-o entrar
É a Umbanda quem lhe chama, irmão.
Jesus bateu e lhe chamou.
Deixe-o entrar, deixe-o entrar
É a Umbanda quem lhe chama irmão.
Era uma luz, era uma luz
Era uma estrela, nosso Rei Oxalá
Eu vi brilhar, eu vi brlhar
Uma luz no céu eu vi brilhar.
Pombinha branca mensageira de Oxalá.
Vai dizer que somos soldados de Jesus
Nós marchamos até o calvário carregando a nossa cruz.
Nós somos soldados de Jesus
Marchamos carregando a nossa cruz
Com fé e devoção, chegáramos até voz.
Oh virgem da conceição.
Quem pode é Deus, meu irmão quem pode é Deus.
O mundo é grande meu irmão, maior é Deus.
Atirei uma pedra e a terra abalou
O mundo estava torto e Santo Antônio endireitou.
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21. OXOSSI (OXOSSE)
O Orixá que reina nas matas e trabalha com as folhas e raízes para curar e vencer demandas. Na Umbanda são representados pelos caboclos, entidades de luz sob a forma de índios que chegam no templo bradando alto, girando e dançando ao som dos atabaques. São sérios e diretos no que fazem. Sempre. Saudação: Oxossi iê, Okê Caboclo, Okê Arô Cor: verde Sincretismo: São Sebastião Dia da semana: quinta-feira Principal erva: Folha de manga, folha de eucalipto. Oferenda: Prato de barro com frutas diversas, velas verdes, água de côco ou vinho. Se não for ofertar no templo, oferte na mata fechada.
Pontos cantados de Oxossi
No centro da mata virgem uma linda jibóia eu vi.
Mas era Sr. Flecha de Fogo chegando agora para trabalhar.
Ele é pajé, ele é pajé.
Flecha de Fogo ele é pajé.
Pega a pemba, rica o ponto, firma o ponto e não bambeia
Flecha de Fogo está chegando na aldeia.
Na aldeia de meu pai Cobra Coral eu só trabalho pra me defender.
Eu entrego meu corpo a Deus, essa batalha tenho que vencer.
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Mas eu chamei caboclo foi pra trabalhar.
Aqui não tem areia, areia só fica no mar.
Se meu pai é Oxossi quero ver balancear
Arreia, Arreia Capangueiro da Jurema, ô Juremá
Tava na mata eu tava trabalhando
Senhor Oxossi passou me chamando
Eu vou, eu vou onde ele mora
Mora nas matas de Nossa Senhora
Ele atirou, ele atirou e ninguém viu
Seu Sete Flecha é quem sabe, onde a flecha caiu
Caboclo afirma seu ponto na pontinha do cipó
Deu meia noite na lua, deu meio dia no sol
Dentro da mata virgem uma linda cabocla eu vi
Com seu saiote feito de pena era Jurema, filha de Tupi
Jurema, Jurema, Jurema linda cabocla filha de Tupi
Ela vem lá do Juremá, vem firmar seu ponto neste congá
Ô cadê, Vira Mundo pemba?
Ta na pedreira pemba, com seu tambor e pemba
Galinha preta na encruzilhada, galo preto de madrugada
Azeite de dendê, farofa amarela depositei numa panela
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Estava na mata, estava na mata, estava bem escondidinho
Estava na mata, estava na mata, caçando meu passarinho
É sangue, é sangue, sangue Carirí.
Quem tem sangue de caboclo tá na hora de cair.
Ô Juremê, ô Juremá sua flecha caiu serena ô Jurema dentro desse conga
Salve São Jorge Guerreiro, salve São Sebastião
Salve a cabocla Jurema com a sua proteção
Um grito na mata ecoou, foi Seu Pena Branca quem chegou
Com sua flecha e seu cocar Seu Pena Branca vem nos ajudar
Olha o meu passarinho azulão
Quando voa não pousa no chão
Mas que lindo caboclo de pena
Com peito de ema e bodoque na mão
Quem pode me levar não me leva
Quem não pode quer me levar
Mas que lindo caboclo de pena
Com peito de ema e bodoque na mão
Pai Marinho nasceu na Umbanda
Mamãe Oxum acabou de criar
Pai Marinho é o rei da Umbanda
Ele é filho da filha da cobra coral.
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Quando ele vem lá do oriente,
Vem em nome de Oxalá.
Sua missão é muito grande:
Espalhar a caridade dentro desse jacutá.
Vamos saravá Ogum, vamos saravá Oxalá.
Saravá o Pai Marinho, ele é nosso rei, O dono desse jacutá.
Bota fogo no mato chama, chama que ele vem
Ele vem chegando, vem de vagarinho
Afirmar seu ponto vem fazer seu ninho.
Caboclo roxo da pele morena
Ele é Oxossi caçador lá da Jurema
Ele jurou e tornou a jurar
Pelos conselhos que a Jurema vai lhe dar
Jurema preta princesa rainha
É dona da cidade lá no Juremá
Dona do sol e da lua, rinha da terra e do mar.
É dona da cidade lá no Juremá.
Pisa caboclo quero ver você pisar
Pisa lá que eu piso cá, quero ver você pisar
Pisa caboclo quero ver você pisar
Na batida do meu samba quero ver você sambar.
Ê Ogum iê, tatá cumá dendê
Ogum iê.
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Quem manda a gira girar,
Ô manda a gira girar.
Se ele é filho da Jurema e neto de Iorucá
Ele entra na linha e manda a gira girar.
Arreia folha por folha, tatá mirô.
Arreia maracanã, tatá mirô.
Se ele é filho da Jurema, tatá mirô
Nascido no Juremá, tatá mirô.
Caboclo não tem caminho para caminhar
Caminha por cima da folha, por baixo da folha
Em todo lugar. Okê caboclo.
Estava na beira do rio sem poder atravessar
Chamei pelo caboclo, Caboclo Tupinambá.
Tupinambá, chamei. Chamei, tornei chamar ê ah.
Vestimenta de caboclo é samambaia
É samambaia, é samambaia
Saia caboclo não me atrapalha
Saia do meio da samambaia
Oxossi iê, Oxossi ah,
Oxossi iê malembolê, malembolá.
Tem pena dele, oh Zambi tenha dó
Ele é filho de Zambi, oh Zambi tenha dó.
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Flecha de fogo e Oxossi curiou, com sua flecha ele atirou
Com seu bodoque de guerreiro
Ele trouxe paz, trouxe esperança nesse terreiro de Umbanda
Com sua flecha e sua lança
Com seu bodoque de guerreiro, Ele é chefe de terreiro.
E na Umbanda ele é o maior.
Nas matas já piou a sucuri. Já cantou a juriti.
A Umbanda é a verdade.
Lê lelê, lelê lelê lelê lelê leá
Lê lelê Caboclo Sete-Flechas no congá
Saravá seu Sete-Flechas ele é o rei das matas
A sua bodoque atira, ô caboclo, a sua flecha mata
Eu vi o sol, eu via lua.
Eu vi a lua e quis brincar com ela
Eu vi o sol, eu vi a lua.
Senhor Oxossi mora dentro dela.
Seu caçador na beira do caminho, não me mate essa coral na estrada
Se ele abandonou sua choupana, caçador
Foi no romper da madrugada..
Se a coral é sua cinta, a jibóia é sua laça
Kizoa, kizoa, kizoa eu, caboclo mora nas matas
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Caboclo flecheiro tu és a nação do Brasil
Tu és a nação brasileira, caboclo
As cores da nossa bandeira
Caboclo pega a sua flecha, pega o seu bodoque
O galo já cantou
O galo já cantou na Aruanda
Oxalá te chama para sua banda
A despedida de caboclo faz chorar
Faz chorar, faz soluçar. Faz chorar.
A sua aldeia é longe, eles vão embora.
E vão beirando o rio azul.
Adeus umbanda os caboclos vão embora.
E vão beirando o rio azul.
22. MOÇAMBIQUEIROS
Linha pouco desenvolvida na maioria dos terreiros de Umbanda, formada por espíritos de índios brasileiros o povo Moçambiqueiro tem um jeito único e hipnotizante de dançar e vibram, assim como os caboclos, na força de Oxossi.
Ponto cantado de moçambiqueiro
Moçambiqueiro não bebe pinga, Moçambiqueiro não bebe água.
Moçambiqueiro não bebe vinho, bebe o sereno da madrugada
É de Moçambique, é de Moçambique, é de Moçambique, é de Moçambique!
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23. XANGÔ
O Orixá da justiça divina, do equilíbrio entre o que devemos e o que podemos cobrar. Recorre-se a ele quando se sente que a vida está em dívida consigo, então Xangô providencia de forma implacável o equilíbrio, o que lhe é justo e certo. Xangô se apresenta no terreiro de duas formas: Xangô velho e Xangô novo. Ambos sempre empunhando sua machadinha de pedra, pois a pedreira é o seu ponto de força. Saudação: Caô Cabecilê Cor: Marrom Sincretismo: São Jerônimo, São João Batista Dia da semana: quarta-feira Principal erva: Erva de São João. Oferenda: Prato de barro ou madeira com quiabos, fruta do conde e mel. Acompanhados de cerveja preta, flores amarelas e velas marrons.
Pontos cantados de Xangô
O leão roncou nas matas
A pedreira estremeceu
Xangô, meu Pai Xangô
Vem olhar os filhos seus
Xangô é rei, é rei nagô.
Bate palmas pra coroa de Xangô
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Ele vem de Aruanda, ele vem trabalhar
Ele vence demanda ele é seu airá.
Caô, cão a justiça chegou, Xangô.
Ô lírio olha a sua planta, ô lírio olha o seu conga
Onde o rouxinol cantava, onde Xangô morava
Xangô, Xamgô vai buscar quem mora longe
Busca Oxossi nas matas, Ogum no Humaitá
Mamãe Oxum nas cacgoeiras
Ô Iansã, Ô iemanjá!
Dizem que Xangô mora na pedreira
Mas essa não é sua morada verdadeira
Xangô mora na Cidade de Luz
Onde mora Santa Bárbara, Virgem Maria e Jesus
Caô, caô chegou meu pai Xangô
Tanta pedra no caminho já rolou
Tanta pedra no caminho já quebrou
Sua justiça é soberana ninguém pode duvidar
Xangô é rei, veio para ficar
Sua justiça é soberana ninguém pode duvidar
Xangô é rei em nosso conga.
Em cima daquela pedreira tem um livro que é de Xangô
Caô, caô, caô cabecilê.
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Ele é filho da cobra coral, ele é filho da cobra coral
Ele é filho da cobra coral, caô!
Singanga ê, ê luango
Singangaê ô, ê luango
Aruê gangaô no boiamin gangaê
Aruê gangaô no boiamin gangá
Xangô é tabiararaê
Xangô é tabiararaê ô
Quem rola as pedras nas pedreiras é xangô
Vibrou na coroa de Zambi, vibrou na coroa de Zambi
Vibrou na coroa de zambi é Xangô
Vibrou na coroa de Zambi, vibrou na coroa de Zambi
Vibrou na coroa de Zambi é maior
Vibrou na coroa de Zambi, vibrou. Vamos saravá meu pai Xangô
Quem é que vem de Aruanda? Que é que vence demanda?
Quem é o dono das pedras? É Xangô.
Pedra rolou Pai Xangô, lá nas pedreiras
Afirma o ponto meu Pai nas cachoeiras
Tenho meu corpo fechado, Xangô é meu protetor
Afirma o ponto meu pai, pai de cabeça chegou
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Xangô morreu foi com a idade, ele morreu sentado numa pedra
Ele escreveu na justiça
Quem deve paga, quem merece recebe
Xangô Agodô
Quando baixa nesse terreiro irradia muita alegria, muita paz e grande amor.
É um orixá respeitado, orgulho de quem o recebe.
Caridade aos necessitados, sai de mancinho e ninguém percebe.
Xangô Agodô
Quando baixa nesse terreiro irradia muita alegria, muita paz e grande amor.
Ele vem vindo, olha ele lá! Vem bem contente e até sorrindo.
Ele vem trazendo, ele vem trazendo as bênçãos de Oxalá.
Xangô meu pai na umbanda
Vem de Aruanda ele é meu Orixá
No alto de uma pedreira Ele faz justiça, pra seus filhos ajudar
Xangô, na sua aldeia não há maldades
Só o amor pode reinar
Tu me ensinastes a fazer a caridade
E pela terra a Umbanda exaltar
Meu pai com sua machada
Ele não ataca é só pra me guardar
E no seu livro ele escreva o meu destino
Meu pai Xangô ilumina meus caminhos
Ele é Xangô, Caô caô
Vencedor de demanda ele é meu protetor
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Lé lé lé ô caô
Lé lé lé quimbandolé
Lé lé lé ô caô!
Xangô caô deixe essa pedreira aí
Umbanda está lhe chamando, deixe essa pedreira aí
Sentado na pedreira de Xangô eu fiz um juramento até o fim
Se um dia me faltar a fé no meu senhor que role essa pedreira sobre mim
Meu pai Xangô está no reino, meu pai xangô é Orixá
Olha seus filhos que pedem, meu pai. Justiça e paz nesse congá.
Por de trás daquela serra tem uma linda cachoeira
É do meu pai Xangô que arrebentou sete pedreiras
Meu pai Xangô já berimbou na aldeia
Xangô já berimbou na aldeia
Já berimbou, já berimbou na aldeia
Xangô já berimbou na aldeia.
Xangô já vai, já vai pra Aruanda
A bênção meu pai, proteção pra nossa banda.
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24. NANÃ BURUQUÊ
Senhora das almas, tida como a Orixá mais velha Nanã é carinhosamente apelidade de “Avó da Umbanda”. Enquanto Omolú reina na passagem dos encarnados para o plano imortal, Nanã Buruquê embala as almas com carinho para que elas encarnem no plano terreno. Quando ela chega no terreiro é importante saudá-la com fé e respeito assim como respeitamos os sábios mais velhos. Nanã vibra no lodo, na lama do fundo dos rios, no barro que Deus usou para moldar o homem. Saudação: Saluba Nanã Cor: Lilás ou roxo Sincretismo: Santa Ana (Sant’Ana) Dia da semana: sábado Principal erva: pétalas de flores roxas. Oferenda: Prato de barro com folhas e frutas roxas como repolho roxo, uvas, ameixas etc. acompanhado de velas lilases, água, vinho ou champanhe.
Pontos cantados de Nanã Buruquê
Auê Nanã, Nanã, Nanã nauê
Auê Nanã, Nanã de Buruquê
Saluba minha velha, saluba nanauê
Saluba minha velha, auê Nanã de Buruquê
Saluba eu, saluba eu Nanã, saluba eu Nanã
Ô Nanã Buruquê
50
E nas ondas do mar eu vi Nanã
É Nanã Buruquê
Nanã é uma velha bem bela que mora no fundo do mar
Saluba Nanã, saluba Nanã, saluba nana que mora no fundo do mar
Atraca atraca que aí vem Nanã ê ah.
É nana, é Oxum que vem sarava ê ah.
É Nanã, é Oxum e a sereia do mar ê ah.
São flores Nanã são flores
São flores Nanã Buruquê
São flores Nanã são flores
São do seu filho Obaluaê
A sineta do céu bateu, Oxalá já diz que é hora.
É hora, é hora. Nanã Buruquê que já vai embora.
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25. OGUM
Orixá guerreiro e vencedor de demandas. Ogum é o senhor dos caminhos e o comandante maior da linha de Exú. Quando as forças negativas tentam interferir nos trabalhos, é a ele que recorrem primeiro. No terreiro vêm com a forma de nobres cavaleiros. Há diversas variações deste Orixá: Megê, Beira-Mar, rompe-Mato, Arranca-toco, Dilê, Naruê, etc. Saudação: Ogum iê, Patacorí Senhor Ogum Cor: Vermelho Sincretismo: São Jorge Dia da semana: terça-feira Principal erva: Espada de São Jorge. Oferenda: Prato de barro com inhames espetados com palitos ou espinhos de coqueiro múltiplos de sete, acompanhados de cerveja, espadas de São Jorge e velas vermelhas.
Pontos cantados de Ogum
Ogum dilê lê lê
Ogum de lá lá lá
Ogum Dilê lê lê
Sereia do mar é maré.
Ogum Dilê pelo mundo andei
Ogum Dilê pelo mundo andar
Mas olha eu senhor Ogum
Pelo mundo andei, pelo mundo andar.
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Por amor à pemba, por amor à pemba
Viva terreiro de meu pai Ogum
Ogum já venceu, já venceu, já venceu.
Ogum vem de Aruanda e quem lhe manda é Deus
E olha a ronda e olha a ronda
E rolha a onda Ogum general de Umbanda
Segura essa banda meu pai que já começou a rodar
Bota o inimigo pra fora, segura o terreiro, segura o conga.
A água com a areia não pode se demandar
A água vai embora, a areia fica no lugar
Seu Beira-mar escreveu seu nome na areia, escreveu seu nome na areia
Para a água não levar.
Ogum iê Ogum ia. Eu peço licença pra saravá
Se meu pai é Ogum das bandas de lá. Eu peço licença pra saravá
Filho de pemba bebe água no rochedo
Filho de Ogum corre canto e não tem medo
Vou pedir ao criador que derrame seu amor
Aos nossos guias e ao nosso Babalaô.
Ogum em seu cavalo branco. Ele vem, ele vem chegando
No terreiro de Umbanda ele é Ogum, Ogum que vence demanda
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Cavaleiro bateu na minha porta
Passei a mão na pemba e fui ver quem é.
Era são Jorge guerreiro, minha gente
Cavaleiro da força e da fé.
Eu tenho sete espadas pra me defender
Eu tenho Ogum em minha companhia.
Ogum é meu pai, Ogm é meu guia
Ogum vai baixar na fé de Deus e da Virgem Maria
Auê auê Ogum Beira-Mar auê
Iansã virou o tempo para Ogum não governar
Mas durante o barra vento Ogum se pôs a cantar.
Pisa na linha de Umbanda que eu quero ver Ogum sete Ondas
Pisa na linha de Umbanda que eu quero ver Ogum Beira-Mar
Pisa na linha de Umbanda que eu quero ver Ogum Ogum Iara, Ogum Megê
Olha as ondas do mar.
Senhor Ogum de ronda que bela coroa
Pelo amor de Deus Senhor Ogum não me deixe a toa.
Quem está de ronda é São Jorge, deixa São Jorge rondar
São Jorge é guerreiro que manda na terra, que manda no mar.
Saravá meu pai, saravá meu pai.
Girar é bom, girar é bom, girar é bom, é bom girar.
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Salve Ogum Megê, Ogum rompe Mato e Ogum beira-Mar.
Ele trabalha na areia, meu pai, ele trabalha no mar.
Ele trabalha na terra, meu pai. É o Ogum Beira-Mar.
Ogum em seu cavalo corre e a sua espada reluz
Ogum, Ogum Megê
Sua bandeira cobre os filhos de Jesus, Ogum iê
Se meu pai é Ogum vencedor de demanda
Ele vem de aruanda pra salvar filhos de umbanda
Ogum, Ogum. Ogum Iara
Salve os campos de batalha salve a sereia domar
Ogum, Ogum, Iara. Se ele é Ogum, Ogum Iara
Ogum não devia beber, Ogum não devia fumar
Mas a fumaça é a nuvem que passa e a cerveja é a onda do mar
Beira Mar, auê, Beira Mar
Ogum já jurou bandeira na ponta do Humaitá
Ogum já venceu demanda, vamos todos sarava
Ogum é tata doiô, Ogum é meu orixá
É sentinela de Oxum, é remador de Iemanjá
É general de Olorum, ele é Ogum Beira Mar
Oxossi assobiou pra passar no Humaitá
Foi pra falar com Ogum Megê, Mensageiro de Oxalá
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Eles trabalham na areia meu pai, eles trabalham no mar
Salve Ogum Megê, Ogum Rompe Mato e Ogum Beira Mar
Ogum Megê, não me deixe sofrer tanto assim, meu Pai
Quando eu morrer, vou passar na aruanda
Pra ver Ogum, sarava filho de Umbanda
A primeira espada quem ganhou, Foi Ele
Mas ele éOgum, Ogum Megê
Vem de Aruanda pra seus filhos proteger
Seur Ogum Beira Mar o que trouxe do mar?
Quando ele vem, vem beirando areia
Vem trazendo no braço direito o rosário de mamãe sereia
Seu cavalo corre, sua espada reluz
Sua bandeira cobre todos os filhos de Jesus
Seu cavalo corre, sua espada reluz
Auê seu Ogum Iara aos pés da Santa Cruz
Mandei arrear meu cavalo
Pai Ogum já vai viajar.
Adeus Guerreiro de Umbanda
Ele vai e torna a voltar.
Selei, selei o seu cavalo eu selei
Meu pai Ogum já vai embora, seu cavalo eu selei.
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26. OBALUAÊ, OMOLÚ
O Senhor das Almas, Orixá que reina na passagem do espírito do plano encarnado para o desencarnado, por isso seu ponto de firmeza é no cemitério (Kalunga Pequena). Obaluaê (Abaluaê, Omolú) é um orixá sério e deve ser tratado com muito cuidado e respeito. Em muitas casa se deitam aos seus pés em reverência. Saudação: Atotô Cor: cor da palha, branco e preto, nas velas pode acender na cor laranja ou amarela. Sincretismo: São Lázaro Dia da semana: segunda-feira Principal erva: Palha da Costa, palha de milho. Oferenda: Prato de barro com pipoca frita no azeite de dendê e sem sal. Acender velas nas cores do Orixá, servir água ao redor também.
Pontos cantados de Omolú
Seu Abaluaê Sete Montanhas
Peço malembe para o meu caburetê
Peço saúde, peço paz e proteção
Peço malembe para dar aos meus irmãos.
Peço saúde peço paz e proteção
Peço malembe para o meu caburetê
Peço saúde pra ajudar aos meus irmãos.
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Quem disse que meu pai é velho?
É velho mas é coroa
No reino de Obaluaê tem lindos campos de flores.
Casinha branca, casinha branca que eu mandei fazer
Para oferecer ao meu pai Omolú, seu Atotô Obaluaê
Ô salve mamãe Oxum, salve Nanã Buruquê
Seu Atotô Obaluaê!
Ô seu Omolú ele é Orixá
O seu tesouro é osso. Ô cangerê, ô cangerá.
Meu pai Oxalá é o rei venha me valer
É o velho Omolú, atotô Obaluaê
Attô Obaluabê, atotô Babá.
Atotô Obaluaê, Omolú é Orixá.
Se ver um velho no caminho pede a bênção
Benção de Deus, benção de Deus
Benção de Deus abaluaê benção de Deus.
Andei andei, meu pai, pra perceber
Que a minha cina meu pai é padecer
Ô abre a porta, meu pai, pra receber
O seu Omolú, meu pai, Abaluaê.
Na pedra fria, no pé do morro eu sei que mora um velho lá
Ele é curador, ele é rezador, ele é Xapanã, ele vai me curar.
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Seu Omolú ê, seu Omolú ê, seu Omolú ê
Omolú é Orixá.
Saravá seu Omolú. Omolú ê
Saravá seu Omolú, Omolú é Orixá.
Era um velho muito velho que morava numa casa de palha
Na beira da casa ele tinha
Velame miquiçangue, miquiçangue velame
No seu alanguê.
Seu Omolú que belo belo
Omolú que belo faz.
Ele é um grande Orixá, ele é o chefe da Kalunga
Ele é o seu atotô, Abaluaê.
O velho Omolú vem chegando de vagar
Apoiado em seu cajado ele vem nos ajudar.
Omolú é dono da terra
Atotô Abaluaê!
Seu Omolú vai embora pra cidade da Jurema
Oxalá está lhe chamando na cidade da jurema
Ele vai ser coroado na cidade da Jurema
E na coroa de Inhaé
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27. OXUM
Orixá da beleza, doçura e vaidade. Oxum vibra nos rios e na água doce e no terreiro traz consigo o balanço das águas correntes. Seus filhos em geral são sensíveis, carismáticos e apegados à própria imagem. Saudação: Ora iê iê ô, Daiê iê ô Cor: Azul marinho, Azul Royal. Em algumas casas o amarelo e o dourado. Sincretismo: Nossa Senhora Aparecida Dia da semana: Sábado Principal erva: folhas de lírio. Oferenda: Prato de barro com cereja, maçã, pêra, melancia, goiaba, figos enfeitado com fitas nas cores do Orixá. Acompanham velas azuis, e champanhe de maçã.
Pontos cantados de Oxum
Eu vi mamãe Oxum nas cachoeiras
Sentada na beira de um rio
Colhendo lírio, lírio ê. Colhendo lírio, lírio ah.
Colhendo lírio pra enfeitar nosso congá.
Saravá mamãe Oxum, Iansã, Iemanjá
Ogum venceu demanda na fé de Oxalá.
Foi na beira do rio onde Oxum chorou
Oraiê iê ô, choram os filhos seus.
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Cida e o barquinho de Cida, Cida navega no mar
Cida é Mamãe Oxum eô eô. Cida navega no mar.
Daiê iê ô, daiê iê ô Mamãe Oxum
Daiê iê Mamãe Oxum, Daiê iê Oxumaré.
Ela é uma flor no jardim do senhor
Ela é uma rosa, uma rosa em botão
Ela é moça bonita, ela é moça bonita do meu coração.
Oh flor de maio, flor de maio
Se a minha mãe Oxum é linda, flor de maio
Oraiê iê oh flor de maio.
Mamãe Oxum tem proteção de Zambi
Olhai seus filhos com olhar sereno
Ela é grandeza, ela é pureza
Mamãe Oxum traz os seus filhos pra clareza.
Clareia, clareia, clareia Mamãe Oxum clareia
Clareia as cachoeiras, ilumina o terreiro
Seu filhos estão saudando Oraiê iê ô!
Oraiê iê ô, oraiê iê ô
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De um lado só veste pena, do outro lado só brilha ouro
Oraiê iê ô, ê Mamãe Oxum me mostra o seu tesouro.
Eu vi mamãe Oxum chorando, foi uma lágrima que eu fui aparar
Oraiê iê ô minha mãe Oxum, deixa nossa banda melhorar
Rainha minha senhora, rainha da cachoeira
Abençoe este terreiro, vai louvar a vida inteira
Aiê iê ô minha mãe de Aruanda
Aiê iê ô Mamãe Oxum Segura a Banda
O colar da Oxum é da cor do ouro
O colar da Oxum é de ouro só
É de ouro só, é de ouro só.
Quando o atabaque soa filhos de Umbanda chora.
Adeus, adeus, adeus conga
Mamãe Oxum já vai embora.
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28. IEMANJÁ
A mãe de todas as mães. Assim é conhecida Iemanjá, senhora bela e guardiã do amor em seu sentido mais terno. Orixá que reina no mar e protege os pescadores. No terreiro vem cantando o seu canto que é quase um choro e é natural filhas de Iemanjá chorarem nesse momento também. Em reverência jogamos água ou alfazema em suas mãos. Saudação: Odociá, Odociaba, Odô fiaba, Odô yá Cor: azul claro Sincretismo: Nossa Senhora dos navegantes Dia da semana: Sábado Principal erva: Lavanda, alfazema, aloe-vera Oferenda: Prato de barro ou travessa com manjar branco, rosas brancas, fitas azuis acompanhada de velas da cor do orixá, água ou champanhe incolor.
Pontos cantados de Iemanjá
Iê Iemanjá,
Rainha das ondas, sereia do mar
Mas como é lindo o canto de Iemanjá faz até os pescador horar.
Quem escuta a Mãe D’água cantar
Vai com ela pro fundo do mar.
Eu vi uma moça na beira d’água. Solte o cabelo Janaína e cai na água
Ela é uma moça, é Janaína. Quem não conhece a princesa Janaína?
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Eu sou filho de Iabá, Iabá é minha mãe
Ô rainha do tesouro e Odociaba no fundo do mar
Odociaba no fundo do mar, odociaba no fundo do mar.
Tem areia ô tem areia
Tem areia no fundo do mar tem areia
No fundo do mar tem uma pedra
E em cima da pedra, outra pedra
Em cima da pedra tem sereia
E no fundo do mar tem areia
Navio negreiro no fundo do mar
Correntes pesadas na areia a arrastar
A negra escrava se pôs a cantar
Saravá minha mãe Iemanjá
Virou a caçamba de fundo pro mar
E quem nos salvou foi mãe Iemanjá
Saravá minha mã Iemanjá.
Saia do mar linda sereia. Saia do mar venha brincar na areia
Saia do mar sereia bela. Saia do mar venha brincar com ela
Janaina é flor, é flor do mar
Janaina é a moça dos orixás
Quem duvida vem ver a Janaina trabalhar
Mas quando a maré baixar vou ver Janaina ê
Vou ver Janaina ê, vou ver Janaina á
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Iemanjá odociaba. Iemanjá hoje é seu dia de beleza. Salve a sereia do mar.
Lá vou eu pra beira do mar levar flores pra mãe Iemanjá
É a minha oferenda à Rainha Suprema do Mar
Venha comigo irmão, vamos pra beira do mar
É oito de Dezembro vamos todos saravá.
Hoje é dia de Nossa Senhora, de nossa Mãe Iemanjá
Calunga ê, ê, ê, ê, ê. Calunga a, a, a, a, a,
Viva as estrelas no céu viva os peixinhos no mar
Calunga ê, ê, ê, ê, ê. Calunga a, a, a, a, a.
Olhei pro céu e vi estrela correr
Lã nas pedreiras eu vi pedra rolar
Os caboclinhos sentados na areia
E a mãe sereia começou a cantar no mar
E no seu canto ela sempre dizia
Que só queria ter asas pra voar
Subir no céu e ver a estrela guia
Descer na umbanda e ver seus filhos trabalhar
Minha baleia bonita me leva pro fundo do mar
Minha hora está chegando e eu não consigo nadar
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29. IANSÃ
Orixá dos ventos e tempestades, Iansã é senhora dos raios, guerreira e controladoras dos eguns. No terreiro Iansã pode se apresentar de várias formas e cada terreiro possui uma que é mais comum, como a de balé e a guerreira. Saudação: Eparrei Cor: Amarelo Sincretismo: Santa Bárbara Dia da semana: quarta-feira Principal erva: Erva de Santa Bárbara, espada de Iansã Oferenda: Prato de barro com acarajé completo, mangas, abacaxis, velas vermelhas e licor de menta e flores amarelas.
Pontos cantados de Iansã
Iansã tem um leque de penas para abanar dia de calor
Iansã mora nas pedreiras eu quero ver meu pai Xangô
Eram duas ventarolas, eram duas ventarolas
Venta aqui, venta no mar
Uma era Iansã: Eparrei!
A outra era Iemanjá: Odociá
Vem Iansã, Iansã
Segura seu erê Iansã
Iansã, Iansã segura seu erê!!
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No amanhecer é que essa estrela brilha No amanhecer é que ela se ilumina Iansã, senhora do amanhecer Sua espada brilha pra nos proteger É Oiá, Iansã que nos conduz É Oiá, Iansã com sua luz É Santa guerreira, ela é Se preciso for Para acabar com a guerra E espantar a dor É Oiá, Iansã que nos conduz É Oiá, Iansã com sua luz
Ao rodopiar faz o vento E a chuva cai Pra lavar a terra Semear a paz É Oiá, Iansã que nos conduz É Oiá, Iansã com sua luz
Iansã ela é dona do mundo
Dona do fogo, da faísca e do trovão.
Eparrei Iansã de Aruanda
Santa Bárbara com a espada na mão
Moça bonita sua espada é gloriosa
Sua coroa é cravejada de brilhantes
Seu aruê, seu aruá
É Santa Bárbara rainha do céu e do mar
Balé de Iansã, ô Iansã olha quem é.
Mas olha o tempo virou tempo, Iansã olha quem é.
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Santa Bárbara ela é guerreira
Santa Bárbara é que vem guerrear
Ô guerreira da terra, guerreira do mar
É Santa Bárbara que vem guerrear
Iansã Orixá de Umbanda rainha do nosso congá
Saravá Iansã lá na Aruanda, eparrei. Eparrei Iansã venceu demanda
Iansã saravá pai Xangô. No céu uma estrela brilhou
E lá nas matas o leão cantou. Saravá Iansã, saravá Xangô.
Eu saí a procurar
Um fundamento, ninguém vem a saber
Ô abre a porta venha receber
A Iansã, Santa Barbara de Nagô
Iansã já vai, já vai pra Aruanda
A benção minha mãe, proteção pra nossa banda.
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30. PRETOS VELHOS
Uma das linhas mais sagradas e das mais antigas trabalhadas na Umbanda (veja Breve História da Umbanda, no início do livro). De maneira geral são espíritos de velhos escravos, mas isso não é uma regra. A principal característica dos Pretos Velhos é a doçura, suavidade e simplicidade em seu ser. São ótimos conselheiros e curadores. Fazem parte da linha das almas (Orumilá) assim como Omolú, Nanã e parte dos Exús. Saudação: Adorei as Almas Cor: Preto e branco Dia da semana: sexta-feira Principal erva: Arruda e guiné. Oferenda: Prato de barro feijão preto cozido, a arroz e farofa, acompanhado de café ou vinho e velas na cor do Orixá.
Pontos cantados de Preto-velho
Quem manda na terra é almas. Quem manda nas almas é Deus
Quem manda na linha das almas no céu algum dia bem diz
Preto-velho quando vem, ele vem beirando a luz
Pedindo a proteção para os filhos de Jesus
Eu andava perambulando sem ter nada pra comer
Eu pedi às santas almas para vir me proteger
Foi as almas que me ajudou. Viva Deus, Nossa Senhora, meu Divino salvador.
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As almas dá, as almas dá. As almas dá pra quem sabe aproveitar, as almas dá.
Os filhos pedem pras almas. As almas pedem pro santo
O santo pede pra deus abençoar filhos teus.
Que cheirinho bom, que cheirinho de café
É que a Vó Benta está coando na cozinha da senzala para o Pai José
A benção meus filhos Vó Benta, a benção meu Pai José
É que a Vó Benta está coando na cozinha da senzala para o Pai José
Aruê meu cativeiro, olha meu cativeiro meu cativerá
Preto-velho estava cansado, entra na senzala e batia o tambor
Preto-velho dá via Yayá, dava viva sinhá, dava viva sinhô
É o vento que balança a folha guiné. É o vento que balança a folha.
É, é é Pai Guiné. É o vento que balança a folha
Senzala em festa, Umbanda em alegria
Oxalá pai da verdade chegou o nosso dia
Clareou, clareou. Clareou e tornou clarear
Quando a lua clareia o terreiro, preto-velho é que vem trabalhar.
Quem vem chegando é Vô Bento de Angola
Os seus cabelos brancos e encaracolados
Tem a brancura da pureza e da harmonia
Abençoados pelo filho de Maria
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Preto na senzala bateu sua caixa. Deu viva Iaia!
Preto na senzala bateu sua caixa. Deu viva Ioio!
Viva Iaia, Viva Ioio!
Viva Nossa Senhora, cativeiro já acabou!
Preto velho trabalha São Cipriano e Jacó
Trabalha qua chuva e o vento
Trabalha com a lua e o sol
Sol, sol, sol sozinho sol.
Oi quindinha, quindinha, quindinha Mussungo mora lá no mar
Mora lá no mar oi Mussungo, joga Mussungo no mar.
Sua casa é muito longe Mussungo, ninguém pode ir lá
Ninguém pode ir lá ô Mussungo. Joga Mussungo no mar.
Dentro de um canavial, um negro se libertou
E lá não tinha pra ele nem chibata nem feitor
Pai José de Aruanda é um grande lutador
Hoje baixa no terreiro, trazendo paz e o amor
Sua sabedoria, seus ensinamentos
Vão de canto a canto aliviando o sofrimento
Vem na força da reza, vem na força das ervas
Vem tirando todo o mal, a mandinga ele quebra
Foi Xangô quem lhe trouxe, Aambi coroou
Agradeço dia a dia, viva a Deus nosso senhor
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Cateretê de preto velho
Ah como sai fumaça
Preto velho tá cansado de tanto trabalhar
Preto velho tá cansado de tanto corimbar
Congo, Rei Congo trazei os pretos velhos
Vamos saravá na linha de congo
Adorei as almas e as almas me atenderam
É as santas almas lá do cruzeiro
Quem é aquele velhinho que vem no caminho cantando de vagar?
Com seu cachimbo na boca pitando fumaça, soltando pro ar.
Mas ele é do cativeiro
Ele é Pai Benedito
Ele é mirongueiro
Foi lá no cruzeiro das almas onde as almas vão rezar
As almas choram de alegria quando seus filhos combinam
Também choram de tristeza quando não quer combinar
A fumaça do cachimbo da vovó sobe pro alto só não vê quem não quer
Sobe pro alto só não vê quem não quer, sobe pro alto só não vê quem não quer.
Pai Joaquim cadê Pai Mané? Foi na mata apanhar guiné
Dia a ele que quando vier que suba as escadas na ponta do pé
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Meu cachimbo está no toco, mandei moleque buscar
No alto da derrubada meu cachimbo ficou lá
As almas acenderam o candeeiro
Ê ê lá no fundo do mar.
Vovó não quer casca de coco no terreiro
Que é pra não lembrar os tempos de cativeiro
Pisa na linha de congo meu filho, filho meu.
Pisa na linha de congo devagar, filho meu.
Pisa na linha de congo destemido filho meu!
Pai congo trabalha na Angola para te ajudar,
Olha o congo a girar!
Preto velho que nasceu no cativeiro
Quando baixa no terreiro de cachimbo e pé no chão
Pega a pemba, risca o ponto e faz mironga
Saravá Maria Conga, saravá meu Pai João.
Ele vem beirando o rio, ele vem beirando o mar
Sarava Santo Antônio da Calunga, Benedito e Beira Mar
Lá vem vovó descendo a serra com sua sacola
Com seu patuá, seu rosário, ela vem de angola
Eu quero ver Vovó, eu quero ver.
Eu quero ver se filho de Umbanda tem querer
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Senzala em festa, Umbanda em alegria
Oxalá Pai da verdade chegou o nosso dia
No dia mais bonito da história uma princesa anunciou
Que os pretos velhos e seus filhos da escravidão se libertou
Ao pretos velhos presos na senzala tão feliz se pos a cantar
E agradecer a todos os Santos e também a nosso Pai Oxalá
Na macumba lelê lelelê lelê ô. Na Macumba lelê na batida do tambor.
Cambinda Mamãe, ê. Cambinda Mamãe, ah.
Segura Cambinda que eu quero ver
Filho de Umbanda não tem querer
Vovó tem sete saias, na última saia tem mironga
Vovó veio de Angola pra salvar filho de Umbanda
Com seu patuá e a figa de guiné
Vovó veio de Angola pra salvar filho de fé
Arriou na linha de congo. É de congo, é de congo aruê
Arriou na linha de congo agora que eu quero ver
Salve o congo, salve o recongo
Salve o povo de Inhansã. Salve São Jorge Guerreiro, Salve São Sebastião.
Pombinho de Zambi, pombinho de Obatalá
Vai meu pombo branco pra senzala de Aruanda
Busca os pretos velhos para trabalhar
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Lá vão os pretos velhos subindo pro céu
E Nossa Senhora cobrindo com seu véu
Vovó Benta vai embora
Sacode a poeira da sua saia (todos sacodem as vestes)
Os pretos velhos vão embora pra cidade da Jurema
Oxalá tá lhe chamando na cidade da Jurema
E eles vão ser coroados na cidade da Jurema
E na coroa de Inhaé
31. ERÊ, IBEJI
Os espíritos das crianças também tem vez na Umbanda. Assim como Jesus ordenou que fossem a Ele as crianças, pois elas possuem a inocência e serenidade ideais para a evolução do espírito rumo à pureza, a Umbanda tem as portas abertas aos Erês. No terreiro eles vem fazendo festa, sorrindo e brincando com todos, mas sem deixar de lado o compromisso com a verdade. São excelentes para trabalhos de purificação e elevação das energias dos ambientes e também para a fertilidade. Saudação: Ibeji Ibejá Cor: Azul claro e rosa claro Sincretismo: São Cosme e São Damião Dia da semana: Domingo Principal erva: Erva cidreira, camomila, erva doce Oferenda: Prato de barro ou travessa com doces variados, refrigerante, suco de frutas, velas na cor do Orixá.
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Pontos cantados de Ibeji
Cosme e Damião dois santos de caridade
Vai ter festa no terreiro, testemunha da verdade
Cosme e Damião a sua casa cheira
Cheira Cravo, cheira rosa
Cheira flor de laranjeira
Eu vi dois, dois na beira do mar
Dois, dois Mamãe Iemanjá
São Cosme e São Damião venha nos ajudar
Ajuda todas crianças em primeiro lugar
Ajuda eu São Cosme, ajuda eu!
O meu anel de pedra branca que eu perdi no mar azul
Quem achou foi Doum
Cosme e Damião,
Damião, cadê Don Um?
Don um foi passear no cavalo de Ogum
Eu quero doce, eu quero bala
Eu quero açúcar pra passar na sua cara
Fui no jardim colher as rosas,
A vovozinha deu-me a rosa mais formosas,
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Cosme Damião, ô Doum,
Crispim, Crispiniano são os filhos de Ogum
Bahia é trra de dois, é terra de dois irmãos,
Governador da Bahia é Cosme, São Damião
Papai me compre um balão com todas crianças que tem lá no céu
Tem doce papai, tem doce papai, tem doce lá no jardim
Cosme e Damião quer bandeira
Quer bandeira pra brincar, quer bandeira
Cadê sua camisa Doum? Foi jogar bola
Foi jogar bola Doum na terra de Angola
Viva Cosme e Damião, ô viva!
Viva todos Orixás, ô viva!
Eu vou pedir a Deus do céu, ô viva!
Para ele me ajudar, ô viva!
Eu vi Don um na beira d'água,
Comendo arroz bebendo água
Andorinha que voa, voa andorinha
Leva esses anjos pro céu, andorinha
Vai, vai, vai andorinha
Leva esses anjos pro céu andorinha.
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32. CIGANOS
A história do povo cigano é tão marcada pelo misticismo e preconceito quanto a dos índios e pretos velhos – pioneiros da Umbanda. Durante séculos foram perseguidos e ignorados, o que gerou um imenso carma a ser resgatado e foi na Umbanda que encontraram abrigo espiritual para fazer o bem e pregar suas palavras de liberdade e alegria. No terreiro os ciganos vem com muita festa e dança, trabalhando com cores, incensos, fogo, baralhos e facas. Eles lêem a sorte e quebram demandas. Saudação: Ori Babá Cor: Multiplas cores Dia da semana: sexta-feira Principal erva: Rosas e flores silvestres Oferenda: Prato de barro ou travessa com frutas, pães, azeite, vinho, licores, velas vermelhas e amarelas e fitas coloridas.
Pontos cantados de Ciganos
Ela é uma cigana faceira, ela é.
Ela é das sete linhas e não é de candomblé.
Ela vem de muito longe pros seus filhos ajudar
Ela vem de muito longe saravá nesse congá.
Cigana não te dou meu coração, não posso com você morar
Sua casa é na encruza, Tranca-rua é quem mora lá.
Deu uma ventania, ô ganga. No alto da Serra.
Era Dona cigana, ô ganga.Que vem descendo em terra.
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Ciganinha, ciganinha eu preciso de você
Vamos jogar o jogo da amarelinha
Se eu perder você me ganha, se eu ganhar, você é minha.
Ela é ciganinha da sandália de pau
Quando ela chega no reino ela faz o bem e leva o mal.
Quem te conhece chora
É hora do cigano ir embora
Adeus filhos de Umbanda
Até logo e até quando ele voltar.
É hora, é hora. Boa viagem.
Os ciganos vão embora. Boa viagem.
Eles vão com Deus. Boa viagem.
E Nossa Senhora. Boa viagem.
Até um dia. Boa viagem.
Dia de ele voltar. Boa viagem.
E saudade vai deixar. Boa viagem.
E saudade vai levar. Boa viagem.
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33. BAIANOS
A terra mais mística do Brasil também está representada na Umbanda: a Bahia e seus baianos são figuras freqüentes em qualquer terreiro. Eles são um misto de alegria e seriedade, quebram trabalhos de baixa magia, auxiliam no alívio de doenças e a vencer demandas diversas. No Portal dos Orixás juntamente dessa linha se manifesta a linha do cangaço na qual encontramos figuras como Lampião, Maria Bonita, Gumercindo e Zé das Pimentas. Ambas as linhas apresentam características muito semelhantes, por isso se manifestam em juntos. Saudação: Amei a Bahia Cor: Amarelo Dia da semana: quarta-feira Principal erva: Rosas brancas ou amarelas, cravos vermelhos Oferenda: Prato de barro ou travessa farofa, carne seca, coco, água de coco, pimentas, velas amarelas, cachaça.
Pontos cantados de baianos
Bahia, ô África, vem cá nos ajudar.
Força baiana, força africana
Força divina vem cá, vem cá.
Meu facão bateu embaixo, a bananeira caiu.
Cai, cai bananeira. A bananeira caiu.
Coquinho, coquinho baiano, coquinho lá da Bahia
Coquinho venceu demanda, Nossa Senhora da Guia
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Eu fui à Bahia e implorei ao meu Senhor do Bonfim
Que ele me ajudasse a seguir na Umbanda meu caminho até o fim.
Meu Senhor do Bonfim me ajude
Eu preciso de paz e saúde.
Baiano chegou na aldeia na luz da lua cheia
Estremece os corações e a fá se encendeia
Pisa leve, pisa manso meu nego, a lua andeia
Arreia o congá, Odoiá Mamãe sereia
Ô quando pisa na areia o mar se abalanceia
Joga a rede pescador, proteção mãe das candeias.
Se a palha do coqueiro é alto. Mas pro baiano não tem altura não
Eu quero o coco, eu quebro, eu quebro o coco.
Eu quebro o coco aqui e em qualquer lugar.
Baiano que vem da Bahia vem beirando beira-mar
Bote a canga no sereno, deixe a canga serenar
Sou eu baiano da Serra da Mantiqueira
Sou eu baiano, vem sela qualquer maneira.
Se ele é baiano, ele é baiano feiticeiro
Se ele é baiano, ele é baiano macumbeiro
A sua faca na cintura é um desafio
Que ele chegou pra iluminar todos seus filhos
Vamos baianada pisar no catimbó, amarrar meu inimigos na pontinha do cipó
Vamos baianada pisar no cangerê, amarrar meus inimigos que não tem o que fazer
81
Baiana da saia rendada, tabuleiro tem acarajé
A Baiana sai requebrando quando dança o candomblé
O Bahia, Bahia do Nosso Senhor do Bonfim
O Bahia peça a Oxalá por mim
Peça a Oxalá por mim
Quando eu fui la pra Bahia minha mãe me avisou
Quem mexe com Baiano mexe com nosso Senhor
Quando eu vim da Bahia a estrada eu não via
Cada encruza que eu passava uma vela eu acendia
Oi na Bahia ninguém pode com Baiano
Quebra coco, arrebenta sapucaia
Quero ver quem pode mais
Na Bahia tem vou mandar buscar
Lampião de vidro oi sadona, para clarear
Pisa Baiano, Pisa lá, que eu piso cá
Pisa Baiano quero ver você pisar
O meu irmão, o irmão meu
Cadê meu irmão que não vem brincar mais eu?
82
Mas olha eu camarada, camarada meu
Sou Severino que chegou aqui agora
Camdomblé Bato no Keto
Umbanda bato na angola
Gira, gira girador Zé Pelintra aqui chegou
Na fé da Virgem Maria, na paz do nosso Senhor
Seu Zé é guardião contra o mau ele é doutor
Não fica inimigo na casa, Zé Pelintra já guardou
Zé, o Zé. Zé da brilhantina
Zé, o Zé namorado das meninas
Foi Zé que cortou o pau, foi Zé que fez a jangada
Foi Zé que roubou a moça e casou na encruzilhada
Zé Pilintra tem dois filhos, todos dois Zé Pilintrinha
Um tinha duas cabeças e outro nem cabeça tinha
Seu Doutor, seu Doutor. Bravo senhor.
Zé Pilintra chegou. Bravo senhor.
Com os poderes de Deus. Bravo senhor.
Zé Pilintra Sou eu. Bravo senhor.
Malandro com malandro, marido e mulher.
Malandro com malandro Zé Pilintra é.
Meu senhor não maltrate esse negro, que esse negro caro me custou.
Ele usa camisa listrada, calça de veludo e anel de doutor.
Esse negro é doutor? Seu é sim senhor!
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Esse é senhor? Seu Zé sim senhor!
Mas ele é seu doutor. Seu Zé sim senhor.
Mas ele é seu senhor. Seu Zé sim senhor.
Mexa comigo que eu não mexo com ninguém
Que mexer comigo pode, se puder comigo tem.
Conhecer a boemia tem que ver romper o dia.
E ouvir aquela história que passou lá na Bahia.
Quem não conhece negro Zé alforriado?
De terno branco, pano bom bem engomado.
Diz a história negro Zé já foi doutor
E apesar da boemia ele só teve um grande amor.
De terno branco, seu punhal de aço puro
Seu ponto é seguro quando vem pra trabalhar
Segura o negro que esse negro é Zé Pilintra
Na descida do morro ele vem trabalhar
Ô meu limão, ô meu limoeiro. Ô meu limão, ô meu limoá.
Eu sou Zé Pilintra, Zé Pilintra eu sou.
Joguei meu punhal no ponto pra meu ponto afirmar
Chamei meus camaradas pra demanda derrubar.
Ô Zé, ô Zé enganador. Enganou filha de moça com palavras de amor.
Mas não fui eu que enganei ela, foi ela quem me enganou.
84
Seu Zé Pilintra quando vem ele traz sua magia
Para saudar todos seus filhos e retirar feitiçaria
Pisa na Aruanda, Zé Pilintra eu quero ver.
Mulher, mulher cuidado com seu marido
Se ele é bom na faca, eu sou no facão
Se ele é bom na reza, eu na horação
Se ele diz que sim, eu digo que não.
Eu sou Zé Pilintra, ele é Lampião.
A malandragem já fala por si só, o nome dele é Zé Pilintra é o rei do Catimbó
Ele nasceu e se criou nas Alagoas
E sua vida sempre levou numa boa
Hoje ele vem no batuque do terreiro
Ele chega sambando e sapateando, ele é Mestre Juremeiro
Confio nele, nele eu tenho fé
Resolve qualquer problema com a força do seu axé.
É meu amigo, é um grande camarada
Me defende dos perigos ao longo da minha estrada
Com suas mandingas desata qualquer nó
Ele é seu Zé Pilintra, é o rei do catimbó.
Seu Zé feche a porteira, cancelas e tronqueira não deixe o mal entrar
O galo já cantou na Aruanda, farofa na fundanga quero ver queimar.
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Dim, dim, dim , dim, dim, dimdim, dim. Dimdim, dim, dimdim
Girando cruzado no meio do terreiro chegou
O rei da Bahia, do Congô e da lei de Nagô
Chegou Zé Pilintra que veio do lado de lá
Fumando e bebendo e gritando: vamos saravá
Saravá ô saravá. Saravá ô saravá
Eu risquei um ponto para saravá o Seu Zé
Maria Padilha é rainha do Candomblé
Candomblé ô Candomblé. Candomblé ô Candomblé.
Zé Pilintra, Zé Pilintra boêmio da madrugada
Vem na linha das almas e também na encruzilhada
O amigo Zé Pilintra que nasceu lá no sertão
Enfrentou a boemia com seresta e violão
Hoje na lei de Umbanda acredito no senhor
Pois sou seu filho de fá, pois tem fama de doutor
Com magia e mironga dando forças ao terreiro
Saravá Seu Zé Pilintra, o amigo verdadeiro
Se ele é baiano agora que eu quero ver.
Comer pimenta da costa com azeite de dendê.
Baiano bom, baiano bom
Baiano bom é o que sabe trabalhar
Baiano bom é o que sobe no coqueiro, tira o coco, bebe a água
E deixa o coco no lugar
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Bolim, bolim, bolim, meu bolim bambolear
Sou baiano bamboleiro vim aqui bambolear.
Também jogo capoeira, quero ver você jogar.
No congá tem coco, nesse coco tem dendê
Baiano quebre esse coco, tira a água que eu quero beber.
Um baiano, um coco.
Dois baiano, dois cocos.
Três baianos uma cocada
Quatro baianos uma baianada.
Fui fazer uma caçada, mas foi tão pequenininha
Com um facão de sete palmos fora o cabo e a bainha
Uma sacola de ovos e setecentas galinhas.
É lampi, é lampi, é lampi. É lampi, é Lampião.
O seu nome é Virgulino, o apelido é lampião.
Quando eu vim lá da Bahia eu trouxe meu patuá
Terreiro que tem mironga, baiano que mirongar
Bahia ê ê ê, Bahia ê ê á.
Se entrega Corisco! Eu não me entrego não
Eu não sou passarinho Pra viver lá na prisão
Se entrega Corisco eu não me entrego não
Não me entrego ao tenente, não me entrego ao capitão
Eu me entrego só na morte de parabelo na mão
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Coqueiro do norte está balançando
A Bahia tá me chamando.
No barco eu vim, no barco eu vou
No barco de ouro de São Salvador.
Agora pro seu morro vai subir, meu Deus ele já vai embora.
Conversa de malandro não tem fim
Boa noite meu senhor, boa noite minha senhora.
Pisa Seu Zé, pisa. Pisa Seu Zé, pode pisar.
Lima Seu Zé, limpa. Limpa Seu Zé, pode limpar. (todos sacodem as vestes)
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34. BOIADEIROS
Certamente um dos povos mais sofridos e, mesmo assim, felizes de nossa terra. Os boiadeiros conquistaram seu espaço na Umbanda graças as lições de vida que tem para transmitir e aos trabalhos em pro do bem e da caridade que fazem. São povo simples e sem rodeios, quando chegam no terreiro vem bradando como se estivessem tocando suas boiadas. Saudação: Getuá (Oxetuá) Cor: Amarelo ou laranja Dia da semana: quarta-feira Principal erva: Rosas brancas ou amarelas, espada de São Jorge Oferenda: Prato de barro ou travessa farofa, carne cozida ou seca, arroz carreteiro, feijão tropeiro, conhaque ou cachaça e velas amarelas.
Pontos cantados de Boiadeiros
E lá vem vindo, e lá vem só. E lá vem vindo a força maior
E lá vem vindo Boiadeiro, e lá vem só. E lá nascendo a força maior.
Me chamam de Boiadeiro, não sou Boiadeiro não
Eu sou laçador de gado, Boiadeiro é meu padrão.
Getuá, getuá. O meu laço é de laçar.
Getuá, getuá. Laço de laçar meu boi.
Ô lalaê, lalaê lalailá.
Ô laê lalailá, ô laê lalailá, ô lalaê lalailá.
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E aproveita o rala bucho, Maricota venha cá.
Se tu rala, eu também ralo. Então nós dois vamos ralar.
Maracujá só é bom quando está murcho, aproveita o rala bucho, Maricota venha cá.
Venha pra cá, vai pra lá, o que é que tem?
Aqui não tem ninguém, não podemos trabalhar.
Vem cá Zefinha me dá essa flor. Ela dizia: não dô, não dô, não dô.
Mas a Zefinha demorou para me dar aquela flor que eu tanto quis cheirar.
Passou-se muito tempo nesse puxa-puxa e quando ela me deu a flor já tava murcha.
Cadê meu laço, laço de laçar meu boi? Meu boi fugiu, e eu não sei onde ele foi.
Cadê minha corda que eu quero laçar? O meu boi fugiu e eu não sei aonde está.
A menina do sobrado mandou me chamar por seu criado
Eu mandei dizer a ela que estou vaquejando o meu gado
Sou eu Boiadeiro que gosta do samba arroxado.
Bóia Boiadeiro, Boiadeiro bóia
Se eu contar minha história Boiadeiro chora
Se eu nunca chorei, vou chorar agora.
Se eu perdi meu boi foi no romper da aurora
Seu Boiadeiro por aqui choveu, choveu que água rolou
Foi tanta água que meu boi bebeu
Foi tanta água que meu boi nadou
Na minha boiada me falta um boi. Me falta um me faltam dois.
Na minha boiada me fata um boi. Me faltam dois, me faltam três.
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Morena linda porque me olhas?
Não me conhece, mas porque tu me namoras?
Seu marido é ele, morena. Seu amor sou eu.
Eu tenho meu chapéu de couro, eu tenho a minha guiada.
Eu tenho meu lenço vermelho para tocar minha vaquejada.
Eu tenho a minha faca, não levo desaforo.
Aonde eu mato o boi ali mesmo eu tiro o couro
Se meu boi morreu, o mocotó é meu.
Pra pagar o prejuízo que meu boi me deu.
Eu toquei o meu berrante, era pra gado escutar.
Sou Tião Capixaba e não deixo a demanda passar
Aqui só passa meu gado, demanda não deixo entrar.
Foi nesse passo que eu saí da minha aldeia
Montado em meu cavalo com meu chapéu de lado
Quando eu saí a minha mãe me abençoou.
Os boiadeiros vão embora, aleluia eu! Com Deus e Nossa Senhora, aleluia eu!
Ah, ah, ah aleluia eu!
É hora, é hora. Boa viagem. Os ciganos vão embora. Boa viagem.
Eles vão com Deus. Boa viagem. E Nossa Senhora. Boa viagem.
Até um dia. Boa viagem. Dia de ele voltar. Boa viagem.
E saudade vai deixar. Boa viagem. E saudade vai levar. Boa viagem.
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35. MARINHEIROS
Cada dia num porto, em cada porto uma história, cada história um aprendizado. Essa é a sina dos marinheiros e com tanto conhecimento e tanta boa vontade foi na Umbanda que essa linha de trabalhadores bem humorados da Luz aportou para praticar o bem. No templo eles chegam cheios de alegrias e boa conversa, principalmente com as mulheres. Mas prestem atenção: é numa brincadeira que surgem as grandes verdades. Saudação: Salve a marujada (ou simplesmente “Salve”) Cor: azul claro e branco (há casos que o guia trabalha com outras cores) Dia da semana: sem especificação Principal erva: Rosas brancas, lírios, copo de leite Oferenda: Prato de barro ou travessa com peixes, camarões ou outros frutos do mar acompanhado de velas azul-claras e brancas, cerveja, cachaça ou rum.
Pontos cantados de Marinheiros
Mas eu não sou daqui. Marinheiro só. Eu não tenho amor. Marinheiro só.
Eu sou da Bahia. Marinheiro só. De são salvador. Marinheiro só.
Marinheiro, marinheiro. Marinheiro só. Quem te ensinou a nadar? Marinheiro só.
Foi to tombo do navio? Marinheiro só. Ou foi o balanço do mar? Marinheiro só.
Lá vem, lá vem. Marinheiro só. Ele vem faceiro. Marinheiro só.
Todo de branco. Marinheiro só. E com seu bonezinho. Marinheiro só.
Mas eu não sou daqui. Marinheiro só. E nem sou de lá. Marinheiro só.
Eu sou marinheiro. Marinheiro só. Minha casa é no mar. Marinheiro só.
Marinheiro, marinheiro. Marinheiro só. Marinheiro é meu amigo. Marinheiro só.
Não deixe o barco afundar. Marinheiro só. Vem me livrar do perigo. Marinheiro só.
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Vem marinheiro, dá licença de passar.
Meu navio entrou no porto, ele vem de alto mar.
Já cruzei a hora grande, mar revolto eu enfrentei.
Vou chamar pela pesqueira para ver se ela vem.
Quando eu pisar em terra vou falar pra minha velha:
Meu navio foi no balanço, é no balanço que ele vai!
Martim Pescador que vida é a sua?
Bebendo cachaça e caindo na rua.
Eu bebo minha pinga, eu bebo muito bem.
Eu bebo minha pinga, não é da conta de ninguém.
Eu também sei nadar, eu também sei nadar no mar.
Eu também sei, também sei, também sei nadar.
Na barra apitou o navio. Perguntando se podia entrar.
A barra está toda tomada, seu marujo. Nessa barra aqui quem manda é Oxalá.
Marujo bebe na boca do garrafão
Pisa de pé em pé para não cair no chão
Marujo bebe na boca do garrafão
Samba a noite inteira com a garrafa na mão
Marinheiro é hora, é hora de vir trabalhar
É pau, é chuva, é pedra marujo nas ondas do mar
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Rema canoa marinheiro. Rema canoa devagar
Essa canoa só feita para Martin para angolar
Saltei em terra meu navio ficou no mar
De longe eu vejo uma faixa azul
Seu moço perguntou quem era
Sou Capitão filho de Mamãe Oxum
Pisa Pereira, quero ver você pisar
A pisada do Pereira faz a areia levantar.
Ô cachaça não me aborreça
Desce pra barriga, cachaça, não suba pra cabeça.
Tido vem ver, tido vem cá
Venha ver como é bonito a marujada trabalhar.
Não vá beber, não vá se embriagar, não vá cair na rua pra polícia te pegar.
Eu já bebi, eu já me embriaguei, eu já caí na rua e a polícia nada fez.
Seu marinheiro sua morada é no mar.
Eu vou, eu vou remando. Remando para o mar.
Seu Marinheiro que balanço é esse?
É meu barquinho que vi para o mar levando flores belas pra mãe Iemanjá.
Eu sou Marinheiro do Egito, eu tenho Bom Jesus pra me ajudar.
Eu sento na proa do navio, Santa Bárbara, jogo minha âncora no mar.
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Minha jangada vai sair pro mar, pra trabalhar meu bem querer.
Se Deus quiser quando eu voltar do mar um peixe bom eu vou trazer.
Meus companheiros também vão voltar e a Deus do céu vamos agradecer.
Marinheiro jangadeiro o que é que traz nessa canoa?
Trago ouro, trago prata, trago cachaça da boa.
A onda me trouxe e o vento me leva
Quando a onda passar eu me sento na pedra
E a marola do mar vai levando
Marinheiro é que vai navegando
Adeus camarada, adeus. Adeus que eu já me vou.
É no balanço do mar que eu vim. É no balanço do mar que já me vou.
Minha baleia bonita me leva pro fundo do mar
Minha hora está chegando e eu não consigo nadar.
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36. EXÚ, POMBAGIRA, EXÚ-MIRIM
Os guias que trabalham na esquerda nada tem de maldade, eles simplesmente trabalham no lado negativo do astral em prol da Luz, o que os torna mais duros no trato com as coisas e pessoas. Em geral são extremamente sérios e inteligentes, contudo isso é situacional, pois assim como os encarnados, os povos da esquerda tem seus momentos de alegria e seriedade. São extremamente respeitados no astral por seus serviços prestados, afinal são eles quem garantem a segurança dos trabalhos espirituais, impedindo que os espíritos de baixa luz se façam presentes. Na linha da esquerda todo ser é Exú, o nome do Orixá que reina nessa vibração, todavia dá-se o nome de Exú à entidade masculina e adulta enquanto a mulher é chamada de Pombagira, Pombogira ou simplesmente Exú-mulher. As entidades juvenis desse campo são denominados Exú-Mirim. Saudação: Laroiê Cor: preto e vermelho Sincretismo: há quem correlacione com Santo Antônio ou com o Diabo Dia da semana: sexta-feira Principal erva: Pimenta, arruda, folha de mangueira Oferenda: Exú: Prato de barro com farofa amarela, pimentas, cebolas, bifes, palitos de fósforo (ou espinhos de coqueiro), velas vermelhas, charutos e cachaça. Pombagira: champanhe, rosas, cigarros e velas vermelhas. Exú-mirim: doces, cigarros e cachaça.
Pontos cantados de Exú, Exú-Mirim e Pombagira
Tava dormindo na beira do mar
Quando a umbanda me chamou pra trabalhar
Agora Exú do logo vai me guiar
O inimigo está guarnido na porteira do curral
Ponha a mão nas suas armas, vai guerrear
Bota o inimigo pra fora para nunca mais voltar.
96
Marabô iê, Marabo iá
Cadê Marabô, cadê Marabô, cadê Marabô, Marabo iá
Na praia deserta eu vi Exú então meu corpo tremeu todo
Acendi a minha vela, acendi o meu charuto
Arriei o meu marafo e saudei Exú do Lodo, eu saudei Exú do Lodo
Ogum, Exú pede licença pra seus filhos ajudar. Ogum
Mas ele é um Exú guerreiro, vem trazendo forças para esse terreiro
Já deu a meia noite meus irmãos, as doze horas já bateu
Mas se levanta quem está sentado, meus irmãos, para saudar Exú do Lodo
Balança figueira, balança fiqueira, balança figueira quero ver Exú cair
Cadê Seu Tranca-Ruas que eu não vejo ele aí?
O Sino da igrejinha faz delém, dlem dlom
Deu meia noite o galo já cantou. Seu Tranca-Ruas que é dono da gira
Oi corre gira que Ogum mandou
Exú é do querer querer, na hora grande é que eu quero ver
Exú é do romper da aurora, Exu do Lodo toma conta agora
I quá quá quá, mas que linda risada que Exú vai dar.
Mas que linda risada que quá quá quá, que linda risada que Exú vai dar.
97
Seu Tranca-ruas é uma beleza eu nunca vi um Exú assim
Seu Tranca-Ruas é uma beleza ele é madeira que não dá cupim.
Ô luar, ô luar. Ô luar! Ele é dono da rua, ô luar.
Quem cometeu as suas faltas peça perdão à Tranca-Ruas. Ô luar.
Quanto sangue derramado, ô luar. Em cima do frio chão...
Seu Tirirí trabalhador da madrugada
Toma conta, presta conta no romper da madrugada
Deu meia noite quando o malvado chegou
Vestido de capa preta dizendo que era doutor
Mas ele era Exú dizendo que era doutor
Eu vi Exú dando gargalhadas , com tridente na mão, sua capa bordada
Mas ele é Exú Tirirí morador lá da Kalunga vem firmar seu ponto aqui.
Ninguém pode comigo, eu posso com tudo
Lá na encruzilhada ele é Exú veludo
Exú veludo seu cabrito deu um berro
Arrebentou cerca de arame, estourou portão de ferro.
Santo Antônio de batalha faz de mim trabalhador
Corre gira Pombagira, Tranca-Rua e Marabô
98
Na beirada do caminho esse congá tem segurança
Na porteira tem vigia, meia noite o galo canta.
Mas eu tenho uma lança, eu tenho uma lança, eu tenho uma lança na terra
Eu tenho uma lança, eu tenho uma lança, eu tenho uma lança no fundo do mar
Eu vi um homem de baixo da amendoeira
Era osso só, é Tatá-Caveira
Exu Caveira, Caveira. Quem te chamou aqui?
Exú tem chifre, Exú tem rabo, olha que Exú é danado.
Portão de ferro, cadeado de madeira
Na porta do cemitério onde mora Exú Caveira
Sete porteiras, Sete Encruzilhadas
Exú é da banda Cruzada
Eu fui no mato o ganga, cortar cipó o ganga
Eu vi um bicho o ganga, de um olho só o ganga
Não era bicho o ganga. Não era nada o ganga
Era Omolú o ganga. De um olho só o ganga
Tava curiando na encruza quando a banda me chamou
Exú no terreiro é Rei, na encruza ele é doutor
Exú vence demanda, Exú é curador
99
Coroado é Rei e já ganhou coroa
A sua gargalhada, oi, não é a toa.
Ele vem vindo por de trás da bananeira
Saravá rei Omolú, Exú Tatá-Caveira
Soltei um pomo lá nas matas e na pedreira não pousou
Foi pousar na encruzilhada, seu Tranca-Ruas quem mandou
Diz Exú não é marinheiro pra amarrar toco no mar
Chove chuva, cai sereno, toco no mesmo lugar
Viva as almas, salve a coroa e a fé.
Salve Exú das almas, ele é Tranca-Ruas de fá.
Boa noite gente como vai, como passou?
Sete Encruza é pequenininho, mas é bom trabalhador.
Sua capa de veludo quando venho eu deixo lá
Quando dava meia noite, todo Exú ia buscar
Ina mojubá ê, ina mojubá ê.
Exú Cainana quem te matou, Cainana?
Foi seu Tranca-Ruas? Foi seu Marabô? Foi Tatá-Caveira, Cainana, quem te matou?
Galo cantou na beirada do terreiro
Pra saudar a encruzilhada onde mora Exú Guerreiro
100
Eu vi gemer, Joaquim, eu vi chorar.
Naquele morro eu vi pombo avoar.
Exú fez uma casa sem porteira e sem janela
Ainda não achou morador pra morar nela
Sou Exú trabalho no canto, quando canto desmancho o quebranto
Sete cordas tem minha viola, tô na gira de lenço e cartola
Viola é tridente, cigarro é charuto, bebida é marafo
Sou sete da Lira, derrubo inimigo, ponteiro de aço
É ele quem comenda esse terreiro, é ele quem segura esse congá.
Por isso vamos cantar e bater palmas,
Seu Sete encruzas das almas vamos homenagear
Ina, ina é mojubá. É, é mojuba.
E no calor de nossas almas, seu sete encruzas das almas vamos homenagear.
A lua brilhando está, ilumina-se na sua tumba
Se escuta seu gargalhar e estremece na Kalunga
Seu homem, está por sair. Vamos cantar em louvor
E se precisar de mim é só gritar seu Atotô
Ô, ô, ô, ô, ô vamos gritar seu Atotô. Ô, ô, ô, ô, ô Tatá-Caveira já chegou.
Eu tenho fé, eu tenho fé. Tenho fé nesse exú que é Tranca-Ruas de Embaré
Salve a porteira, a sua encruzilhada, salve a sua gargalhada, sua coroa de rei
Salve a vela e o punhal em sua mão,
Salve a grande proteção que nesse Exú eu encontrei
101
Você está vendo esse moço que no cruzeiro está?
Ele é o Exú tranca-Ruas filho das almas também
Preste a ele uma grande homenagem quando por ele passar
Ele é o Exú tranca-Ruas filho das almas também
Tome cuidado não vá se enganar, reuna os caminhos e ele poderá passar
Malelê, malelê, malelê maleloá
Exú do Lodo malelê, malelê, malelê, maleloá
Exú do fogo, do caldeirão
Ele trabalha com fogo e derruba o inimigo no chão
A porta do inferno estremceu, todos correram para ver quem é
Eu dei uma gargalhada lá na encruzilhada. Maria Padinha e o compadre Lucifer
Exú ganhou um galo, mas não quis comer sozinho
Ele chamou seus camaradas, pedaço por pedacinho
Aí chegou seu Lucifer, a Pombagira não é homem ela é mulher
Santo Antônio pequenino botou fogo no paiol, ô ganga
É Exú, pisa no toco de um galho só
Exú pisa no toco, pisa no galho, o galho balança e Exú não cai ô ganga
É Exú, pisa no toco de um galho só.
O garfo de Exú é firme, a capa de Exú me rodeia
Passei pela encruzilhada, passei pela encruzilhada
Passei pela encruzilhada Exú não bambeia.
102
Cemitério é praça linda, ninguém lá passear
Cada tumba é casa branca, casa de Exú morar
Unhas grandes, braços fortes
Seu Capa Preta vem trazendo a sorte
Exú Apavenã, Exú Apavenã
Embauê, embauê, Exú Apavenã
Ilê mafê i mafambo
Icomessuê, á, á, á. Icomensuá
Meia Noite auê Meia Noite
Meia noite o galo canta, meia noite o bode berra
Meia noite seu Meia Noite no portão do cemitário, ganga.
Ô meu Senhor das almas de mim não faça pouco
Olha lá que ele é Exú, exú arranca Toco.
Seu Marabô ele é pequenininho, mas pra mim ele é grande demais.
Todos pedidos que eu faço, Marabô, ele me satisfaz.
Calungaê, calunga ah, Exú que veio pra demanda quebrar
Exú que veio pra demanda quebrar
Esse Exú é Marabô abará
103
Inferno pegou fogo, seu toco preto apagou.
Foi na gira de Exú, seu Marabô. Seu toco preto se apagou.
Santo Antônio pequenino amansador de burro bravo
Quem mecher com nossa gira vai mecher com Coroado
Rodeia, rodeia, rodeia Santo Antonio rodeia
Deu meia noite em ponto o galo cantou.
Cantou pra anunciar que Tiriri chegou.
Ele vem da Calunga de capa, cartola e tridente na mão.
Esse Exú de fé é quem nos trás Axé e nos dá proteção.
Ele é Exú Odara e vem nos ajudar, com seu punhal ele fura,
Ele corta demanda, ele salva,ele cura. Exú é mojubá, Laruê!
Laruê Exú, Exú é mojubá. Eu perguntei a ele o que é Exú, ele vem me falar.
Exú é caminho, é energia, é vida, é determinação,
É cumpridor da Lei, Exú é esperto, Exú é guardião,
Exú é trabalho, é alegria veloz, Exú é viver, é a magia, é o encanto
É o fogo, é o sangue na veia vibrando, Exú é pra dizer: Laruê!
Laruê Exú, Exú é mojubá. Traz sua falange Exú Tiriri para trabalhar, Laruê Exú!
Vem seu Tranca-Ruas, Maria Padilha e Exú Marabô
Sete Encruzilhadas, seu Zé Pilintra aqui chegou
Maria Mulambo, Maria Farrapo e Dona Figueira
Dona Sete Saias, Pombogira menina e Rosa Vermelha
Sete Catacumbas, Exú Caveira firmam ponto aqui
E o Exú Capa Preta anunciou a festa do Exú Tiriri. Deu meia noite em ponto!
104
A terra tremeu, a terra tremeu
Quando o Coroado no terreiro apareceu.
Ê puerê, ê puerá
Olha a mosca varejeira, salve Exú caveira!
Casa de lei não é pra brincar
Aqui mora, Tatá Caveira, Marabô e Abará
Vou fazer minha oração bambeia, foi seu Capa Preta quem me deu.
Minha oração tem mironga, Exú. Meus inimigos não me vencem não.
Naquela encruzilhada tem um rei e esse rei é Tirirí
Nessa tronqueira tem outros reis: Seu Sete Encruza e a Rainha Pombagira
Prende o galo preto, me solta o carijó
Na virada da meia noite seu Marabô é o maior.
Pombagiras
Ela é Pombogira aqui, aqui e em qualquer lugar
Cuidado moço ela é perigo. Ela é dona Rainha mulher de sete maridos
Deu meia noite, a lua se escondeu
Lá na encruzilhada dando a sua cargalhada, a Padilha apareceu.
É laroiê, é laroiê, é laroiê. É mojubá, é mojubá, é mojubá
Se ela é odara, dando a sua gargalhada
Quem tem fé em Pombagira é só pedir que ela dá
105
Auê pombogirê, auê pombogirá
Auê pombogirê, pombogirê, Pombogira!
A bananeira que eu plantei à meia noite, foi que deu cacho no meio do terreiro
Toma cuidado que essa velha é maluca, firma seu ponto que essa velha é feiticeira
Pombagira dá, Pombogira toma
Pombogira é mulher mandona
Sete, sete ô lebara
Sete, Sete lebara ô
Vem Pombogira, vem tomar xoxô
Vencedora de demanda vem tomar xoxô
De vermelho e negro vestindo à noite, um mistério traz
De colar de ouro, brinco dourado a promessa faz
Se é preciso ir, você pode ir, peça o que quiser
Mas cuidado amigo, ela é bonita, ela é mulher
E no canto da rua girando, girando, girando está
Ela é moça bonita, girando, oi girando, oi girando lá
Oi girando está ,olelê. Oi girando lá, olalá.
Arreda homem que aí vem mulher
Ela é a Pombagira Rainha do cabaré
106
A noite traz os mistérios no cair da aurora e a qualquer uma chga minha senhora
Levando alegria e axé ao meu terreiro, a sua saia rodada tem mistério
Na gira da Pombagira das Sete Saias, na gira que quando gira traz esperança
Girando com a Pombagira das Sete Saias, levando sua beleza quando ela dança
Maria Mulambo ela mereceu ganhar, ganhar o que ganhou
Foram sete rosas na Kalunga, sete marafos e uma saia de setim
E como tudo isso não bastasse ela ganhou uma coroa de Atotô
Atotô meu pai, Atotô meu senhor (laroiê Exú!)
Maria mulambo mereceu o que ganhou
Tenda tendá, Pobogira tendá
Tenda tendá, Pombogira tendaó
Juraram de me matar na porta do caberé
Toda noite eu estou lá, só não mata quem não quer
Maria Padilha você é a flor perfeita
Que vem dentro dessa seita para aqueles que tem fé.
Tu és a rosa que perfuma a Umbanda, vencedora de demanda
Com amor e muito axé. Maria Padilha não me deixe andar sozinho
Ponha rosa sem espinhos no caminho onde eu passar
Ó Pombogirê, ó Pombagirá, faça um tapete de rosa pra que eu possa caminhar.
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Exú-Mirim
Oh meu senhor das almas tenha pena de mim.
Eu sou pequenininho, eu sou Exú-Mirim
Eu sou pequenininho eu não sei de nada
Eu sou Exú-Mirim das Sete encruzilhadas
Exú Caveirinha venha trabalhar. Levanta dessa Tumba e faz pedra Rolar
Na mão esquerda a foice, na cinta o Punhal
Não sai da linha mano pra não se dar mal
Subida de Exú
A sua banda está lhe chamando, ele vai se retirar
Vai pra linha das almas, sua banda é de lá.
Seu Exú pra que tanta demora? Dono da casa disse é hora, é hora, é hora.
Exú já comeu, Exú já bebeu, agora quem manda na banda sou eu.
Exú trabalhou, Exú curiou
Exú vai embora, seu chefe mandou.
Pelo pé, pelo pé. Encruzilhada já te chama.
Pelo pé, pelo pé. Encruzilhada te chamou.
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37. O ENCERRAMENTO DA GIRA
Encerrar os trabalhos espirituais de forma consistente e segura é tão importante quanto abrir com a mesma firmeza. Não são os médiuns que decidem a hora de encerrar os trabalhos, por mais que estes possam tentar acelerar o desenrolar da gira essa é uma decisão que vem do astral, assim que os Orixás decidem que já fizeram tudo o que era cabido de fazer no terreiro e que a partir daquele momento irão acompanhar os fieis espiritualmente até suas casas.
Os procedimentos para a abertura dos trabalhos são válidos também para o encerramento desde que o responsável pela casa julgue necessário. As preces, defumação e cânticos podem ser repetidos, contudo é mais usual a execução de orações e pontos cantados específicos para o encerramento da gira, bem como pontos de demanda e salva de palmas para agradecer aos mentores de luz que acompanharam o desenvolvimento.
Os presentes na gira devem retirar suas guias respeitosamente e guardá-las em local próprio e novamente saudar os locais sagrados do terreiro e pedir a bênção aos pais e padrinhos da casa tal qual aconteceu na entrada. Se pediu proteção ao entrar, deve pedir ao sair.
Pontos de encerramento
Vou fechar minha Jurema, vou fechar meu Juremá.
Com a licença de Mamãe Oxum, e nosso Pai Oxalá.
Já fechei minha Jurema, já fechei meu Juremá.
Com a licença de Mamãe Oxum e nosso Pai Oxalá.
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Eu fecho a nossa gira com Deus e Nossa Senhora.
Eu fecho a nossa gira sandolê pemba de Angola.
Nossa gira está fechada com Deus e Nossa Senhora.
Nossa gira está fechada, sandolê pemba de Angola.
Adeus Congá, Congá de alegria
Adeus Congá de ouro, Até um outro dia.
Tambor você fica aqui. Tambor vou me retirar.
Adeus Umbanda, adeus Congá. Adeus Umbanda, meu zelador de Orixá.
Seu Sete Espadas que me acompanha, seu Zé Pilintra ele é rei nagô.
Seu Sete encruza que é o dono da gira, me fecha a gira que Ogum mandou.
Prece de encerramento
Com a graça do Divino mestre chegamos ao término dos nossos trabalhos. Elevemos nossos pensamentos ao todo poderoso agradecendo as bênçãos pelas graças e caridades. Pai , eis que estamos aqui diante de Vós de coração aberto repletos de alegria , pelas graças e pedidos alcançados juntos ao nossos guias e mentores espirituais . Agradecemos os raios de luz que iluminaram vossos enviados e estiveram entre nós e a Vós lhe pedimos Pai a nos iluminar. Através das palavras amigas dos Orixás e mentores de luz que enriqueceram este terreiro.
Permita que ao retorno de nossos lares possamos encontrá-lo de uma maneira melhor que a deixamos. Proteja nossas crianças e nossos velhos, e nos dê sempre a certeza que pela Umbanda e caridade possamos a cada dia ser dignos de seu amor para evoluirmos nosso espírito .
Em nome de Pai Oxossi e Mãe Oxum, donos de minha coroa eu dou por encerrado nossos santos e benditos trabalhos em nome do Oxalá, Ogum e Iansã.
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38. SITUAÇÕES ESPECIAIS
Visita de um Pai/Mãe de Santo ou comitiva de terreiro ao seu templo: assim como tratamos bem quem nos visita em casa, no templo ocorre o mesmo. É natural que o terreiro visitante queria ser anunciado e é exigido do templo anfitrião que ofereça a honraria da apresentação ao menos na primeira visita, pois nas próximas todos já estarão habituados com os visitantes. Após a apresentação formal da casa visitante e os agradecimentos ao chefe do outro terreiro pela visita, é de bom tom entoar um cântico de homenagem ao Babalaô enquanto todos em fila o cumprimentam e em seguida saúdam os demais membros da comitiva. Os Babalaôs visitantes devem bater cabeça logo em seguida dos chefes do terreiro anfitrião.
Visitando um outro templo: mantendo a relação entre o templo e a casa de cada um, basta lembrar que quando criança seus pais não os deixavam visitar ninguém sem a presença deles e a mesma regra vale para o templo. Todo filho de santo deve visitar alguma casa acompanhado de um responsável seja ele o zelador espiritual ou um médium mais velho que tenha essa permissão. Ao sair do templo é de bom tom entoar um canto de agradecimento como o que segue:
Quando eu cheguei nessa casa eu louvei Maria
Eu louvei chefe da casa, eu louvei o Santo dia.
Recados cantados: cada cântico traz consigo uma mensagem, contudo alguns são bem específicos, por isso vale a pena prestar muita atenção ao que é entoado pela corimba, pois ela pode estar dando um recado importante, chamando os médiuns para dentro do terreiro no fim de um intervalo, comunicando que alguém errou a letra de um ponto, alertando uma demanda ou um “Ensuará”, em que o corimbeiro de improviso avisa algo. Há pontos que repreendem más condutas:
Afirma o pensamento pra corrente não quebrar
Pai Joaquim tá trabalhando, não é hora de brincar
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O Pial (A Piaba): é uma dança sagrada nos terreiros em que se estende de fronte aos atabaques um pau (o Pial) sobre o qual todos dançarão. A pessoa que iniciar a dança deve saudar a Piaba e iniciar uma dança livre sobre ela até chegar próximo ao atabaque, assim que sair deve tocar com a sola do pé o próximo a dançar e assim sucessivamente.
Pial, Pial. Passa por cima do pau, ô Pial
Que a maré tá cheia, Pial. Passa por cima do pau ô Pial.
Exaltando um Orixá: todo Orixá vem firme e cheio de luz, porém há momentos em que ele irradia tamanha alegria, que os membros da corrente resolvem saudá-lo com mais veemência. Nessa hora se pode entoar o seguinte ponto:
O Orixá é bom, bate palmas pra ele.
O Orixá é bom, barra vento pra ele.
Descarrego: prática em que um Orixá retira maus espíritos de alguém com a ajuda de médiuns de transporte que prendem em si os eguns (espírito de baixa luz) até que o Orixá o retire e encaminha à Luz. A corrente acompanha cantando os pontos:
Descarrega, descarrega filho. Leva pras ondas do mar
Se a onda do mar é sagrada, mamãe Iansã é quem vai descarrega
Descarrega, Descarrega, quero ver descarregar
A mandinga vai embora, o filho fica no lugar.
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39. CONCLUSÃO
Esta obra foi concebida a partir da necessidade de atualizar o conhecimento adquirido e desenvolvido durante anos de transformações no Portal dos Orixás. Cada pessoa que entra agrega coisas novas e boas, assim como as que se vão deixam saudades e ensinamentos. Nada do que foi escrito nessas páginas é uma verdade absoluta sobre a Umbanda, apenas o retrato da realidade deste templo e da doutrina que ele prega. Esperamos que este pequeno guia sirva de amparo nos estudos e pavimente o caminho para a evolução intelectual, pessoal e espiritual de quem o ler.
Axé.
Cláudio Corrêa Rodrigues
www.serumbandista.blogspot.com